É preciso saber viver

Se o tempo passa, o tempo voa, seus alunos devem discutir sobre o que é levar uma existência boa

Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Corria para um shopping center ou para uma academia? Para se esquecer que não dá tempo para o tempo que já se perdia?” Composta por Paulinho Moska, a música Último Dia toca numa questão fundamental para todos, pelo menos desde a era greco-romana: o que, de fato, confere valor ao tempo vivido?

Prova da persistência do sentimento de angústia pela brevidade da vida, o filósofo Sêneca, um dos grandes pensadores estóicos da Antiguidade, já havia constatado, mais de 2 mil anos atrás: “A maior parte dos mortais lamenta a maldade da natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência e porque os anos que lhe são dados transcorrem rápida e velozmente”.

Como mostra VEJA, a sensação de que a vida é curta para alcançarmos tudo o que gostaríamos gera atitudes contraditórias: por um lado, instiga a vontade de fazer coisas grandiosas e memoráveis — como visitar o Taj Mahal, correr uma maratona ou pular de pára-quedas. Por outro, traz também desânimo pela impressão de que, por mais que realizemos, sempre restará algo imprescindível por concluir.

A esse respeito, Sêneca pondera: “Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada, se nenhuma obra é concretizada, se não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai”.

Pergunte se todos concordam com Sêneca e por quê. Discuta com os alunos o que consideram desperdício ou perda de tempo. O que é mais importante: estudo? Trabalho? Diversão? O que quer dizer “aproveitar o tempo”? E o que é uma vida “bem vivida”? Há tempo suficiente para fazer todas as coisas de que gostariam?

Conte à turma que, em pesquisa recente realizada na Alemanha, calculou-se que um adulto passa na vida, aproximadamente, o equivalente a duas semanas beijando, seis meses no banheiro, cinco anos e meio assistindo TV, dezessete anos trabalhando e 24 anos e quatro meses dormindo. Apesar de estimativos, os dados confirmam o que os antigos filósofos já sabiam: “Pequena é a parte da vida que vivemos”.

Se para gregos e romanos o tempo dedicado aos estudos, às ciências e às artes era qualitativamente superior ao tempo empregado no exercício daquelas funções obrigatórias para a sobrevivência da espécie (isto é, do trabalho), para os modernos verifica-se, entretanto, precisamente o contrário.

Aristóteles, por exemplo, chama atenção para a distinção substancial entre a “vida ativa”, representada pela prática (práxis) e pela técnica (poiesis), e a “vida contemplativa”, representada pela teoria, defendendo o privilégio desta última em relação à primeira.

Explore com a classe a relação entre “ação” e “contemplação”, que tende a se inverter nos dias atuais. O tempo livre é desvalorizado como inútil, sendo julgado de acordo com os mesmos critérios usados para avaliar o tempo de trabalho: desempenho e produtividade. O resultado é paradoxal e aparece em destaque na reportagem da VEJA: curtir a vida nunca exigiu tanto esforço.

DOWNJÁ
COMPARTILHAR:

+1

0 Response to "É preciso saber viver"

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

Projeto Calouro Indica