A vingança é ética?

O sentimento é ancestral. 
Já a discussão, atualíssima

“No amor e na vingança, a mulher é mais bárbara que o homem.” Famoso por suas idéais polêmicas, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche é o autor da sentença, que a julgar por casos extremos como o de Medéia, até faz um certo sentido.

Obviamente, a propensão para cometer atos violentos de vingança não é exclusividade das mulheres, nem tampouco dos antigos gregos. Tanto que, em filmes que vão de Hamlet a Abril Despedaçado, passando por Munique, Kill Bill e V. de Vingança, este poderoso e ambíguo sentimento é a principal inspiração de clássicos de todos os tempos, mas também, infelizmente, de um sem-número de episódios desastrosos na vida cotidiana.

Atividades
Pergunte à turma se alguém se lembra de algum acontecimento, verídico ou não, movido por um forte impulso de revanche e como ele termina. Conforme mostra a reportagem da VEJA, o desejo de retaliação é tão antigo quanto a própria civilização e a história da humanidade certamente seria outra se não fosse por ele. Como indica o texto, a vingança é um sentimento inato à maioria das pessoas, sendo, por isso, parte da chamada “natureza humana”.

Entretanto, o fato de ser considerado “natural” não é motivo para que seja tolerado, ou mesmo incentivado. Se na ficção a vingança dá origem a obras grandiosas, na vida real seu desdobramento é quase sempre a violência, o crime e a guerra. Um mal-entendido bastante difundido, aliás, é aquele que confunde vingança com restituição da honra, ou mesmo sede de justiça. Ledo engano. Para que uma punição alcance a esfera da justiça é preciso que sua execução não seja ditada por sentimentos privados, mas, em vez disso, levada a cabo por instituições públicas legítimas, reconhecidas legalmente pela sociedade civil. Como diz Miguel de Cervantes, criador do Dom Quixote: “Não há vingança justa”.

Ora, mas se a vingança é uma emoção que atinge espontaneamente grande parte das pessoas (que eventualmente, inclusive, alegam não ter o mínimo de controle sobre ela), como fica então a questão da ética? Em outras palavras, o ato de vingança pode ser ético? A resposta não é tão simples quanto parece. Sim e não. Sim, se considerarmos que é relativamente comum sua ocorrência entre as práticas e costumes de um determinado ethos, ou grupo social. E não, quando se leva em conta sua infração aos princípios que caracterizam um sujeito ético.

Segundo a filósofa Marilena Chauí, um agente ético é aquele que: 
1) é consciente de si e dos outros como sujeitos iguais a si mesmo;

2) é dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar os próprios impulsos, podendo escolher entre várias alternativas possíveis;

3) é responsável, ou seja, se reconhece como autor da ação, avaliando seus efeitos, assumindo suas conseqüências e respondendo por elas;

4) é livre, quer dizer, não está submetido a poderes externos que o forcem a agir daquela maneira. Somente quando são observadas estas quatro condições fundamentais, pode-se dizer que uma dada ação é ética, no sentido estrito do termo.

Por fim, discuta com a moçada histórias ou casos conhecidos de vingança, enfatizando sua adequação (ou não) aos pontos que definem um sujeito ético. Para encerrar, escreva no quadro-negro a frase do filósofo inglês Francis Bacon: “Com a vingança, o homem iguala-se ao inimigo. Sem ela, supera-o”. Com base na aula, peça à turma que faça um texto sobre as implicações éticas envolvidas no ato de retaliar.

DOWNJÁ
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