Fim da URSS
A
estagnação econômica a partir de meados da década de 70, aliada à corrida
armamentista, coloca em evidência as deficiências e distorções estruturais da
sociedade soviética e a necessidade de reformas urgentes. A URSS enfrenta
dificuldades crescentes para manter sua hegemonia na Europa Oriental, recua na
Ásia, África e América Latina e naufraga no Afeganistão.
Mikhail
Gorbatchov (1934- ),
funcionário de carreira do Partido Comunista da União Soviética, torna-se um
dos principais assessores de Iuri Andropov durante o curto governo deste, entre
1982 e 1984. Em março de 1985 é eleito secretário-geral do partido, após a
morte de Konstantin Tchernenko, que substituíra Andropov. Em 1986, desencadeia
a glasnost e a perestroika, que, como ele próprio reconhece depois, definem o
que deve ser destruído e mudado, mas não o que deve ser construído no lugar das
estruturas antigas. Isso desencadeia movimentos que Gorbatchov não consegue
controlar, conduzindo uma grave crise econômica, social e política, à sua
própria queda, em 1991, e à desintegração da União Soviética. Seus
entendimentos com os Estados Unidos e a Europa Ocidental para o desarmamento e
a eliminação dos regimes socialistas na Europa oriental lhe granjeiam grande
prestígio internacional, particularmente no Ocidente.
Perestroika – A perestroika, ou
reestruturação econômica, é iniciada em 1986, logo após a instalação do governo
Gorbatchov. Consiste num projeto ambicioso de reintrodução dos mecanismos de
mercado, renovação do direito à propriedade privada em diferentes setores e
retomada do crescimento. A perestroika visa liquidar os monopólios estatais,
descentralizar as decisões empresariais e criar setores industriais, comerciais
e de serviços em mãos de proprietários privados nacionais e estrangeiros. O
Estado continua como principal proprietário, mas é permitida a propriedade
privada em setores secundários da produção de bens de consumo, comércio
varejista e serviços não-essenciais. Na agricultura é permitido o arrendamento
de terras estatais e cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A
retomada do crescimento é projetada por meio da conversão de indústrias
militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e de
investimentos estrangeiros.
Glasnost – A glasnost, ou
transparência política, desencadeada paralelamente ao anúncio da perestroika, é
considerada essencial para mudar a mentalidade social, liquidar a burocracia e
criar uma vontade política nacional de realizar as reformas. Abrange o fim da
perseguição aos dissidentes políticos, marcada simbolicamente pelo retorno do
exílio do físico Andrei Sakharov, em 1986, e inclui campanhas contra a
corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a intervenção ativa
dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Avança ainda
na liberalização cultural, com a liberação de obras proibidas, a permissão para
a publicação de uma nova safra de obras literárias críticas ao regime e a
liberdade de imprensa, caracterizada pelo número crescente de jornais e
programas de rádio e TV que abrem espaço às críticas.
Desagregação
nacional –
A descompressão política, que permite a expressão do descontentamento numa escala
inédita desde a Revolução de 1917, combinada com o impasse na condução das
reformas econômicas, mergulha a União Soviética numa crise no final dos anos
80. A produção se desorganiza devido à ausência de uma estratégia definida de
reestruturação econômica. O único ponto claro da perestroika é a liquidação do
antigo sistema de planejamento centralizado. A estruturação de um novo sistema
é obscura. Organizam-se máfias, constituídas por antigos dirigentes de empresas
e ministérios, que se apropriam do patrimônio público e acumulam fortunas. O
Partido Comunista se divide em facções antagônicas. A União se desagrega, como
resultado da pressão de movimentos nacionalistas e autonomistas nas diversas
repúblicas. Um plebiscito, em 1990, aprova a continuidade da União, mas
conflitos étnicos agravam o processo desagregador. O governo central perde
poder sobre as repúblicas.
Golpe
de Agosto
– Em 19 de agosto de 1991, Gorbatchov enfrenta um golpe de Estado dado por
civis e militares conservadores, que pretendem manter a União e revogar boa
parte das reformas liberalizantes. Mas a reação ao golpe conta com o apoio da
maioria das Forças Armadas e da população, assim como de diversas repúblicas.
Em Moscou a resistência é dirigida por Boris Yeltsin (presidente da Rússia), Ruslan
Khasbulatov (presidente do Parlamento da União) e pelo general Alexander
Rutskoi, tendo como centro a defesa do Parlamento (Casa Branca).
Dissolução
do império –
Como conseqüência da resistência aos golpistas e do enfraquecimento da posição
política de Gorbatchov, Yeltsin assume o poder de fato, proibindo o
funcionamento do Partido Comunista na Rússia. O poder crescente de Yeltsin
força a renúncia de Gorbatchov, em dezembro de 1991. As repúblicas declaram
independência sucessivamente: a Lituânia, a Estônia e a Letônia
em 22 de agosto, seguidas pela Ucrânia
(24/8), Bielorrússia (25/8),
Geórgia e Moldávia (27/8), Azerbaijão, Quirguizia e Uzbesquistão (30/8), Tadjiquistão (9/9) e Armênia (22/9). Em 9 de dezembro de 1991, Rússia,
Ucrânia e Bielorrússia formam a Comunidade de Estados Independentes
(CEI), dando por revogada a existência da URSS. Cazaquistão, Uzbesquistão,
Turcomênia, Quirguizia e Tadjiquistão aderem à CEI em 14 de dezembro.
A CEI E AS NOVAS
REPÚBLICAS
Desde
sua fundação, a Comunidade dos Estados Independentes vem se debatendo com sua
natureza ambígua: embora não seja um país, é mais do que uma simples comunidade
econômica de nações, pois tem Forças Armadas centralizadas, o rublo ainda
circula nas repúblicas que a integram e mantém-se em grande parte intacta a
relação de supremacia da Rússia sobre as demais unidades da extinta Federação.
Mas a explosão de contradições durante muito tempo represadas pelo Kremlin
abala a coesão e as instituições ainda precárias da nova comunidade. Divergências
sobre o controle do arsenal nuclear e a ratificação do Tratato Start, de
desarmamento, que a URSS tinha assinado com os EUA em julho de 1991;
desentendimentos sobre a partilha proporcional, entre as repúblicas, da antiga
dívida externa soviética, de US$ 74 bilhões; e a necessidade de conformar-se às
regras do FMI para obter, no Ocidente, uma ajuda de US$ 24 bilhões, prometida
pelos Estados Unidos e pela Alemanha, são alguns dos problemas globais
enfrentados pela CEI em 1992.
Lutas
pela independência –
Mas há outros litígios que, em alguns casos, degeneraram em guerra aberta:
a presença de 130 mil soldados do ex-Exército Vermelho na Letônia, Lituânia e
Estônia, sob a alegação de que é preciso garantir a segurança da comunidade
russa residente nesses países, mantém a tensão entre a Rússia e os Estados
bálticos. Na Moldávia, o governo luta com os separatistas da autoproclamada
República do Trans-Dniestr, habitada por russos e ucranianos que temem a
possibilidade de integração dessa república à Romênia (os separatistas contam
com o apoio do 14o Exército russo,
estacionado em sua região). No Cáucaso, a Armênia e o Azerbaidjão continuam
lutando pela posse do enclave de Nagorno-Karabakh, com grande número de baixas
de parte a parte. Entre a Rússia e a Ucrânia, além da disputa pelo controle da
frota do mar Negro e do arsenal nuclear, há também a disputa pela posse da
Criméia, habitada majoritariamente por russos, mas sob jurisdição ucraniana
desde 1954 (o território luta pela independência, não se contentando com o
status de autonomia relativa concedido por Kíev). A Geórgia, embora não
pertença à CEI, tem também conflitos internos: além do que opõe os partidários
e opositores do ex-presidente Zviad Gamsakhurdia, deposto em janeiro de 1992,
há também a guerra das autoridades de Tbilisi com a Ossétia do Sul, território
georgiano que reivindica a anexação à Ossétia do Norte, pertencente à Federação
Russa (todas essas questões são herança da política stalinista de separar os
grupos étnicos para enfraquecê-los).
Federação
russa –
A própria Federação Russa, as voltas com problemas políticos e econômicos
dos mais graves, é uma colcha de retalhos de reivindicações das minorias
étnicas que a compõem e ameaçam fazê-la implodir da mesma forma que a ex-URSS.
O novo Tratado da Federação Russa, assinado por Boris Yeltsin, em março de
1992, com 18 das 20 repúblicas autônomas que a integram não encontra uma
solução para seus problemas mais sérios: a reivindicação de soberania da
Tartária, proclamada em 21/3/1992; o separatismo da Chechenia-Inguchétia,
convertida em duas unidades independentes por um decreto do Soviete Supremo de
junho de 1992; o desejo da comunidade russo-alemã de restaurar a antiga
República Autônoma do Volgf, eliminada por Stalin em 1941; e a proposta de que
a lakutia e a Buriatia, o distrito da Niénetz e as repúblicas de Komi e Tuva,
territórios autônomos da Sibéria, fundem-se nos Estados Unidos do Norte da
Ásia. Em todos esses casos, a secessão seria economicamente desastrosa para
Moscou, que perderia o controle sobre o petróleo tártaro, as jazidas de ouro
buriatas e de gás natural nenétsio, o cobalto tuvânio, os diamantes iakútios, e
assim por diante. Para complicar as coisas, o presidente Boris Yeltsin
encontra-se, desde o início de 1992, em rota de colisão com Ruslán Khásbulatov,
o presidente do Parlamento, com quem debate a distribuição do poder. Isso os
levará, até o final do ano, à confrontação aberta.
Comunidade
dos Estados Independentes (CEI) – Instituída em 21/12/1991, integrada pela
maior parte das repúblicas que formavam a extinta União Soviética: Armênia,
Bielorrússia, Cazaquistão, Geórgia, Moldávia, Quirguízia, Rússia, Tadjiquistão,
Turcomênia, Ucrânia, Uzbequistão e
Azerbaidjão. Sede em Minsk, na Bielorrússia. É gerida por conselhos de chefes
de Estado e de governo das repúblicas participantes. A CEI não é um país, pois
cada uma de suas unidades constitutivas é politicamente soberana; mas é mais do
que uma comunidade econômica, pois tem forças armadas centralizadas. Além
disso, embora os países membros estejam criando gradualmente suas próprias
moedas, o rublo ainda circula paralelamente na maioria delas.
Os
últimos 25 anos são marcados por uma rápida e intensa reordenação da política e
da economia em todo o mundo. Na política, o principal fator de mudança é o fim
da polarização Estados Unidos-União Soviética. A perestroika de Gorbatchov e a
queda do muro de Berlim precipitam o desmonte da União Soviética. Emergem
conflitos localizados, antes abafados pela polarização. Muitos deles têm
caráter étnico ou religioso. O racismo e o extremismo de direita ganham novo
fôlego. E o crescimento do fundamentalismo islâmico assusta o Ocidente. Na
economia, novos blocos são formados. Os Tigres Asiáticos aceleram seu
desenvolvimento, os Estados Unidos enfrentam dura concorrência do Japão em seu
próprio território e a velha idéia da unificação da Europa é mais uma vez
retomada com a criação da Comunidade Econômica Européia – hoje, União Européia.
Socialismo
e social-democracia
– A desagregação da União Soviética e o fracasso das experiências socialistas
no Leste Europeu, assim como as reformas de mercado na China, disseminam a
idéia de que a doutrina socialista está morta. A solução para alcançar a
justiça econômica e social passa a ser a social-democracia, que desde a década
de 50 administra o sistema capitalista em bem-sucedidas sociedades européias,
ou o próprio liberalismo ou neoliberalismo, que pretende deixar o capitalismo
funcionar sem qualquer amarra. Entretanto, a social-democracia e o
neoliberalismo também entram em crise no início da década de 90, por sua
incapacidade em dar solução aos problemas sociais postos pelos novos parâmetros
da revolução tecnológica.
Conflitos – Em 1994 persistem
conflitos regionalizados na ex-URSS, ex-Iugoslávia, África, Índia e Sri Lanka.
Na ex-URSS os conflitos mais graves são a guerra entre a Armênia e o Azerbaijão, a luta na Moldávia entre as populações de etnia romena e russa,
a luta dos rebeldes da Abcásia para separar a região da Geórgia e a guerra civil no Tadjiquistão, que opõe,
de um lado, uma aliança entre militantes islâmicos e os partidários de uma
democracia em moldes ocidentais e, do outro, os antigos dirigentes comunistas
apoiados pelo Exército russo. Na ex-Iugoslávia, sérvios, croatas e muçulmanos
travam uma guerra para definir da maneira mais favorável o mapa da inevitável
partilha da Bósnia entre os três grupos étnicos. Na vizinha Croácia, persiste a
tensão entre o governo nacional e as milícias formadas pela minoria sérvia, que
controlam um terço do território do país. Na África continua a guerra fratricida de Angola e os
conflitos em Ruanda, na Somália e no Chade. Entre os conflitos étnicos da
Índia, sobressai a campanha movida por grupos extremistas hindus contra a
numerosa minoria muçulmana. No Sri Lanka, a rebelião tâmil contra a maioria
cingalesa continua a manifestar-se em atentados terroristas.
CEI
A
Comunidade de Estados Independentes, formada pelas repúblicas da antiga União
Soviética, tende cada vez mais a dar ênfase à independência dos Estados-membros
e desprezar o aspecto de comunidade. Apesar de manterem laços econômicos muito
estreitos, como herança da antiga União, e de formalmente constituírem forças
armadas unificadas, cada república procura estruturar suas próprias forças armadas
e libertar-se
das
antigas dependências econômicas, criando relações separadas tanto com a Europa
e os Estados Unidos quanto com a Ásia. As tensões étnicas permanecem, assim
como os problemas políticos. A Rússia, após o confronto entre o Parlamento e o
presidente Yeltsin, em 1993, mantém seu plano de reconversão econômica, com
altas taxas de desemprego mas inflação em baixa, e procura reconquistar a
hegemonia sobre as demais repúblicas.
Só lembrando a vocês: qualquer duvida que vocês tiverem,sugestão ou critica poste um comentario!!
Abraços galera!! :)
Abraços galera!! :)
Pensei que veria muitos comentários ao chegar aqui, estou surpresa por ser a primeira a comentar... Primeiro, quero agradecer ao texto tão claro, pois o assunto ainda é um tanto "obscuro" pra mim, que nunca havia interessado-me realmente em compreender História, e nem nunca havia compreendido realmente o que era a União Soviética! Estou retomando os estudos para prestar vestibular .. Adorei este site, usarei bastante!!
ResponderExcluirOii Fabi!
ResponderExcluirFico mutio feliz que voce tenha gostado e compreendido o resumo o fiz de forma que ficasse bem claro mesmo...realmente esse é um assunto que quase nao é falado,e ele ta dentro do contexto de Guerra Fria.Isso mesmo continue estudando pelo nosso blog, e retomo oq eu disse no final do resumo:se tiver qualquer duvida,sugestão,ou cirtica fale com a gnt!!
Bjs e sucesso no vestibular!! :)