CANÇÃO
Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois abri o mar com as mãos
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio,
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
01. Para a poetisa, o mar a que se refere simboliza:
a) Inquietação psíquica provocada pelo mundo moderno.
b) Total desapego às coisas espirituais.
c) Toda a sua carga sentimental, sua essência, sua alma enfim.
d) O equivalente à terra onde vive e de onde não quer sair.
e) O lugar para onde iria, caso pudesse viajar.
RESPOSTA: C
COMENTÁRIO:
Para a poetisa, o mar simboliza o céu. Ela confia seus sentimentos mais
íntimos, a essência do seu ser, seu próprio espírito ao mar. Sobressai,
nesse poema, a ligação do eu poético com a água.
02. Na primeira estrofe, temos:
a) A poetisa renunciando a tudo que se entende por material e
prendendo-se exclusivamente ao mundo espiritual que, para ela, é o
mar.
b) Fuga do mundo dos vivos e mergulho no mundo da morte como
solução para os problemas materiais.
c) Descrença nas condições de vida delineadas na terra e mergulho
definitivo na eternidade.
d) Abnegação do mundo infantil e entrada completa no mundo dos
adultos, que simboliza realidade.
e) Renúncia ao amor dos homens e incursão na vida celibatária.
RESPOSTA: A
COMENTÁRIO:
A maioria dos seres humanos confia seus anseios espirituais ao céu –
herança religiosa arraigada principalmente no mundo ocidental. A
poetisa troca o céu pelo mar, numa atitude que sugere retorno às
origens da vida.
03. Na estrofe seguinte, sobressai qual figura de linguagem?
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
a) hipérbato; b) hipérbole; c) antítese;
d) metonímia; e) metáfora.
RESPOSTA: D
COMENTÁRIO:
Vamos rever a definição das figuras de linguagem listadas:
a) hipérbato: inversão da ordem natural das palavras numa frase ou
das orações num período. Na literatura, o Barroco (movimento a que
pertence Gregório de Matos) é famoso pelo uso abusivo dessa figura
de linguagem.
b) hipérbole: exagero ao expressar ideias.
c) antítese: oposição de palavras ou de ideias. Mais uma figura comum
na estética barroca.
d) metonímia: consiste em empregar uma palavra ou expressão para
substituir outra palavra ou expressão, numa relação de troca
(substituto e substituído).
Função da metonímia – uma das funções da metonímia é encurtar
um enunciado longo. Na prática, ela economiza palavras e torna a
comunicação mais direta. No poema, Cecília Meireles troca a “água”
pela “cor da água”: “Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das
ondas entreabertas”. Nos dois últimos versos, também se nota
metonímia. Note que a autora troca novamente a “água” pela “cor da
água”: “E a cor que escorre dos meus dedos colore as areias
desertas”.
e) metáfora: consiste em empregar uma palavra fora do seu sentido
normal, estabelecendo uma comparação sutil entre duas coisas nem
sempre afins. A frase não possui conjunções adverbiais
comparativas (como, mais que, menos que, qual, etc), mas os seus
elementos básicos (o termo comparado e a expressão comparante)
permitem uma comparação disfarçada.
04. Observe o primeiro verso da estrofe seguinte; note que a autora
escolhe palavras que se iniciam pela letra “v”: “vento”, “vem”,
“vindo”. A essa sequência de sons consonantais dá-se o nome
de:
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio,
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
a) sinestesia; b) catacrese; c) aliteração;
d) metáfora; e) antítese.
RESPOSTA: C
COMENTÁRIO:
A aliteração consiste em repetir, em sequência, sons consonantais.
Um dos poemas mais conhecidos pela presença de aliteração é
Violões que choram, do poeta simbolista Cruz e Sousa. Veja uma
estrofe do poema:
Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
05. Observe o segundo verso da estrofe seguinte; que figura de
linguagem ele contém?
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio,
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
a) sinestesia; b) catacrese; c) aliteração;
d) metáfora; e) prosopopeia.
RESPOSTA: E
COMENTÁRIO:
A prosopopeia consiste em dar vida, ação, movimento e voz a coisas
inanimadas. Sinônimos: personificação, metagoge, animismo.
06. Observe a estrofe seguinte; note que a autora começa o terceiro
e o quarto versos repetindo as palavras iniciais. Trata-se da
figura:
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
a) anáfora; b) catacrese; c) aliteração;
d) metáfora; e) prosopopeia.
RESPOSTA: A
COMENTÁRIO:
A anáfora consiste na repetição de uma ou mais palavras no princípio
de duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois ou
mais versos. Sinônimo: epanáfora.
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