Direto ao ponto: Ficha-resumo
Por essa razão, um dos principais agravantes no caso da estudante Geisy Arruda foi ele ter ocorrido dentro de uma universidade, ambiente que, como diz o próprio nome, deveria ser "universal" tanto na aquisição de saberes quanto no acolhimento das diferenças.
A aluna chegou a ser expulsa da Uniban, mas a reitoria revogou a decisão depois de ser pressionada pela opinião pública e pela repercussão na imprensa mundial (Estados Unidos, Europa e Ásia).
Geisy foi hostilizada por colegas, no dia 22 de outubro de 2009, nos corredores da faculdade em São Bernardo do Campo (SP), por usar um minivestido rosa.
Na ocasião, a jovem, xingada de prostituta e ameaçada de estupro por cerca de 600 colegas, teve que sair do campus com escolta da Polícia Militar. Cenas do tumulto foram gravadas utilizando-se telefones celulares e colocadas na internet.
Casos semelhantes aconteceram ao longo da história. Mulheres já tiveram cabeças raspadas, foram espancadas, apedrejadas e queimadas vivas em praça pública. Na Idade Média, com a Santa Inquisição, o corpo feminino se tornou objeto de tortura (como relata o livro de Michelet, indicado abaixo).
O que chama atenção no incidente na Uniban é o fato de ter ocorrido em pleno século 21, décadas após os jovens ocidentais terem promovido a revolução dos costumes nos anos 1960. E, também, pelo fato de o Brasil ser conhecido mundialmente pelo clima liberal e descontraído do Carnaval.
O que levou estudantes brasileiros a realizarem tal ato?
Trajes inadequados
A Uniban anunciou a expulsão da estudante no dia 7 de novembro, depois de realizar uma sindicância interna para apurar os fatos. Outros alunos envolvidos foram suspensos temporariamente.Na nota divulgada em jornais no domingo (dia 8), a instituição justificou a medida, alegando que Geisy frequentava as aulas "em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade", e que já havia sido repreendida por isso.
Ainda que o comportamento da estudante contrariasse as regras do ambiente, nada legitimaria a reação violenta dos estudantes. Porém, segundo a mesma nota, a universidade classificou o episódio como "reação coletiva de defesa do ambiente escolar" à "atitude provocativa da aluna".
Educadores, entidades de defesa dos direitos da mulher, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e setores do governo federal reagiram com críticas e questionamentos. Mas a reitoria decidiu voltar atrás na decisão só depois que a polêmica se espalhou pela imprensa mundial e pela internet.
Ensino superior?
Dados do censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam o aumento no número de faculdades privadas no Brasil. De acordo com o último balanço, divulgado em 2007, o país possui 2.281 instituições de ensino superior, sendo 89% privadas e 11% públicas. O número de alunos inscritos passou de dois milhões, em 1991, para cinco milhões, em 2007 (79,8% em faculdades particulares).Ocorre que o rápido crescimento das instituições privadas foi impulsionado pela queda nos valores da mensalidade e pelo corte dos custos, o que prejudicou a qualidade do ensino. Assim, parte dessas faculdades se tornou um balcão de venda de diplomas. E o foco do ensino passou a ser agradar o "cliente", ao invés de formar cidadãos e profissionais éticos.
A Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban), com cerca de 60 mil alunos, é hoje a quarta maior instituição privada de ensino do país.
Nesse contexto, em que, por vezes, a necessidade de gerar lucros entra em choque com a promoção do conhecimento, fica mais fácil entender por que estudantes protagonizaram cenas que a universidade entendeu como "defesa do ambiente escolar".
No dia 22 de outubro, a estudante Geisy Arruda foi hostilizada pelos colegas nos corredores da Uniban, em São Bernardo do Campo (SP), por usar um minivestido rosa. Ela teve que sair do campus sob escolta da Polícia Militar. Cenas do tumulto foram gravadas por meio de celulares e colocadas na internet. Após concluir uma sindicância interna, a Uniban anunciou a expulsão da estudante no dia 7 de novembro de 2009. Outros alunos envolvidos foram suspensos temporariamente. Em nota divulgada em jornais no dia 8, a instituição classificou o episódio como “reação coletiva de defesa do ambiente escolar” à “atitude provocativa da aluna”. A medida foi criticada por educadores e entidades de defesa dos direitos da mulher, pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e por setores do governo federal. O caso repercutiu na imprensa internacional. Devido à polêmica, a Uniban revogou a expulsão. O episódio pode ser analisado à luz da mercantilização do ensino superior no país. |
Saiba mais
- A Feiticeira (Aquariana): estudo clássico do escritor e historiador francês Jules Michelet que reconstitui a figura central da mulher na vida doméstica e religiosa na Europa antiga e a repressão na Idade Média.
- Entre os Muros da Escola (2008): filme francês vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008, conta as dificuldades para superar as diferenças dentro de uma sala de aula.
Fonte: UOL
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