A riqueza proveniente da extração do ouro gerou uma sociedade com características peculiares. Era essencialmente urbana, com pelo menos três grupos bem definidos: a classe dominante, formada pelos administradores portugueses, grandes proprietários e a burguesia portuguesa; a classe média, formada por funcionários públicos, profissionais liberais e artistas; e os escravos. A sociedade mineradora teve grande desenvolvimento cultural devido ao enorme volume de dinheiro e à influência da religião, campo em que a arte se expressou de modo notável. Arquitetos, escultores e literatos rompiam com o tradicionalismo português e passavam a produzir obras que revelavam sentimentos nacionalistas e progressistas. Uma consciência genuinamente brasileira começava a surgir no território mineiro.
A opulência do ouro forjou a crença de que as reservas eram inesgotáveis. No entanto, em meados do século XVIII, as desordens na exploração das minas, a extinção dos filões superficiais e a falta de recursos técnicos anunciavam o início da decadência. O fenômeno foi profundamente desastroso para a sociedade mineira e mal compreendido pela Coroa Portuguesa. Em 1750, o marquês de Pombal mandou restabelecer, por meio de alvará régio, as casas de fundição, com a determinação de que o quinto deveria render no mínimo 100 arrobas de ouro anuais, sendo que, caso a cota não fosse coberta, o governador deveria lançar uma derrama sobre todos os moradores, mineradores ou não, proporcionalmente ao número de escravos que cada um possuísse, a fim de completar a cota. Se por acaso a derrama não fosse lançada, a dívida restante passava para o ano seguinte, podendo ser cobrada a qualquer momento.
Revoltados com a falta de liberdade, com a opressão e os altos impostos cobrados pela Coroa portuguesa e principalmente com o anúncio da Derrama para fevereiro de 1789, importantes membros da elite econômica e intelectual de Minas começaram a se reunir e a planejar um movimento contra as autoridades portuguesas. Dentre eles estavam: o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, chefe do Regimento dos Dragões; Maciel Filho, um dos ideólogos, filho do capitão-mor de Vila Rica, José Álvares Maciel; o ativista revolucionário Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes); mineradores e magnatas endividados, como Alvarenga Peixoto e o padre Oliveira Rolim; Cláudio Manoel da Costa, advogado e poeta, formado em Coimbra; Tomás Antônio Gonzaga, poeta e jurista; Toledo e Melo, padre e minerador e os coronéis Abreu Vieira e Oliveira Lopes.
A pregação revolucionária percorreu a Capitania e foi levada ao Rio de Janeiro pelo Tiradentes. Reuniões foram realizadas durante o período de 15 a 26 de dezembro de 1788 em Vila Rica. Na última reunião, em 26 de dezembro de 1788, ficou acertado o maior número de detalhes para o levante. Decidiu-se que, no dia em que fosse decretada a Derrama, a revolução eclodiria. No início do ano de 1789, os planos dos conjurados foram denunciados ao governador de Minas Gerais, visconde de Barbacena, que suspendeu a Derrama e organizou tropas para prender os revoltosos. O objetivo do principal delator, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, era conseguir perdão para suas dívidas junto à Fazenda Real. Participaram também da denúncia outros dois militares: Basílio de Brito Malheiros e Inácio Correia Pamplona. Todos os implicados na Inconfidência Mineira foram presos, julgados e condenados. Onze deles receberam sentença de morte, mas D. Maria I , rainha de Portugal, modificou a pena para degredo perpétuo em outras colônias portuguesas na África. Cinco réus eclesiásticos foram mandados para conventos em Portugal.
Somente Tiradentes teve a pena de morte mantida. Era o grande entusiasta da idéia de tornar o Brasil um país independente, influenciado pelas idéias iluministas e pela independência norte-americana. A estatura moral de Tiradentes, revelada em seus depoimentos, lhe conferiu a grandeza de líder da Inconfidência Mineira. Foi enforcado em praça pública na manhã do sábado 21 de abril de 1792, no Campo de São Domingos, Rio de Janeiro. O governo convocou sua tropa de soldados para assistir à cerimônia em uniforme de gala, com o objetivo de exibir a força do poder que matava o Tiradentes: aquele que mais simbolizava a figura do povo na Inconfidência.
Os Inconfidentes de 1789, apesar de não terem sido vitoriosos, não podem ser considerados derrotados. Deixaram marcas importantes para o País, o sentimento nacionalista e a vontade de lutar pelas transformações da realidade nacional.
Curiosidade
Escrito pelo inconfidente Tomás Antônio Gonzaga durante sua prisão no Rio em 1789, Marília de Dirceu é livro que reúne alguns dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa. Foi dedicado à jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas. O poeta, aos 43 anos, se apaixonara pela jovem de 16 anos e se casaria se não tivesse sido preso e enviado para a África. Gonzaga escreveu, anonimamente, as famosas Cartas Chilenas, crítica mordaz ao governo de Minas Gerais.
Fonte: Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais
muito bom,
ResponderExcluirDeus abençoe vcs