Células-tronco e aids

Não foi muito noticiado, mas no mês de fevereiro, pesquisadores de Berlin descreveram, na prestigiosa revista New England Journal of Medicine um caso extremamente interessante: o transplante bem sucedido de células-tronco em um paciente, de 40 anos, HIV positivo que estava com leucemia mieloide aguda. Vinte meses depois do transplante ele continua bem. Além da aparente remissão da leucemia ele interrompeu o uso de coquetéis antivírus, que vinha tomando por quatro anos antes do transplante. Um duplo sucesso. O grande interesse desse caso é que o doador de células-tronco, era geneticamente resistente ao HIV. Aparentemente ele conseguiu passar essa característica para o receptor. Esse caso, embora muito raro, ilustra quanto podemos aprender integrando pesquisas sobre nossos genes e células-tronco. 

Gene CCR5 confere resistência contra o vírus HIV

Uma observação que há muito intriga os pesquisadores é por que  algumas raras pessoas, mesmo quando submetidas a múltiplas infecções pelo vírus HIV permanecem assintomáticas. Em 1996, pesquisadores americanos descobriram uma das causas genéticas dessa resistência: o gene CCR5. Cerca de 20% da população caucasiana tem uma mutação (uma deleção ou perda de um pedaço) em uma das cópias (alelo) do gene CCR5 (temos duas cópias de cada gene) e 1% da população tem essa mutação em dose dupla (homozigose), isto é, a pessoa herdou uma cópia do pai e outra da mãe com essa deleção. O que esses cientistas descobriram é que o que poderia ser um defeito tornou-se uma grande vantagem: os portadores da mutação em dose dupla no gene CCR5 (CCR5-mut) produzem uma proteína defeituosa que impede a entrada do vírus HIV nas células. Por isso são altamente resistentes a infecções provocadas por esse patógeno.

Essa resistência poderia ser adquirida através de transplante de células-tronco?

Às vezes os cientistas são confrontados com pacientes ou situações muito raras que podem responder a perguntas fundamentais como essa. Foi o caso do grupo de pesquisadores alemães liderados pelos doutores Hofmann e Thiel. Tinham um paciente HIV positivo que adquiriu uma leucemia mieloide aguda. Precisava urgentemente de um transplante de células-tronco da medula óssea ou cordão umbilical de um doador compatível. Aí surgiu a grande ideia: e se fosse encontrado um doador que, além de compatível, também fosse portador do gene CCR5-mut? Foi aí que ocorreu o grande lance sorte. Os pesquisadores sequenciaram o gene CCR5 de 62 doadores potencialmente compatíveis, registrados no banco de doadores de medula da Alemanha. Acharam um que era compatível e tinha o gene CCR5-mut. Tinham uma oportunidade única de testar a sua hipótese.

O paciente tirou a sorte grande

Conseguir um doador como esse era tirar a sorte grande. Quase como ganhar na megasena. Foi realizado o transplante de medula óssea e depois de algum tempo verificou-se que as células do doador haviam substituído as do paciente. Ele também possuía agora o gene CCR5 protetor. Quase dois anos depois do transplante houve remissão da leucemia e ele suspendeu a medicação antiaids. Por enquanto, parece estar duplamente curado. 

Não será nunca um tratamento de rotina

Repito, achar um doador que seja ao mesmo tempo compatível para o transplante e possuidor do gene CC5R, não é impossível mas é extremamente difícil. De qualquer modo, isso reforça a importância de se ter bancos públicos de sangue de cordão umbilical. Quanto maior o número de amostras, maior a chance de se encontrar um doador com essas características. 

Quem salva uma vida salva a humanidade

De acordo com a tradição judaica, quem salva uma vida, salva a humanidade. Além de salvar uma vida esses cientistas alemães conseguiram comprovar o papel do gene CCR5 na resistência ao vírus HIV. Com isso abrem novos caminhos para tratamentos o que permitirá salvar inúmeras vidas.
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