As dificuldades da conjugação verbal

Ao chegar na lição das conjugações verbais, professor de Português e alunos se divertem, porque há cada forma verbal muito esquisita. Outras que existem apenas para azucrinar o aluno e deixar o professor estressado, caso este não conduza a lição para o campo do humor.
A primeira dificuldade é a existência da segunda pessoa “tu” e “vós”. Logo gritam: “Ninguém usa isso, professor, a não ser os gaúchos”. E acrescento que os gaúchos o usam erroneamente, pois colocam o verbo na terceira pessoa do singular: ‘tu foi” (em vez de “tu foste”)
“Eu cri”, “ele creu” – pretérito perfeito do indicativo. Se alguém usar essas duas formas verbais numa conversa será questionado. A primeira pessoa do presente do indicativo verbo rir: rio, também é muito engraçada, todos os falantes fogem dela.
Ao conjugar o verbo “pôr”, o aluno fica indignado com a forma “pus”, primeira pessoa do pretérito perfeito do indicativo. “Pus não é aquele negócio de ferida, professor”. Explico que sim, mas também é uma forma verbal. E a saída vem imediatamente: “É melhor usar ‘coloquei!’”
Explico que os verbos derivados são conjugados de acordo com os primitivos: refazer (de acordo com fazer), repor (de acordo com pôr), reaver (de acordo com haver). O livro ou apostila põe um exercício com o verbo “requerer”. O aluno quer conjugá-lo de acordo com o “querer”, mas não pode, porque “re” não é prefixo indicativo de repetição nesse verbo. Em vez de “requis” é “ requereu”.
A primeira pessoa do verbo “haver” do pretérito perfeito “reouve” é questionada, porque só usamos o verbo “haver” como impessoal.
Raramente, um verbo é irregular nos futuros do indicativo: do presente e do pretérito, porque é um tempo derivado do infinitivo impessoal, em que o radical permanece inalterado, mas os verbos “fazer” e “dizer” conseguem ser irregulares neles, pois perdem a sílaba “ze”; por isso, alunos conjugam: fazerei, dizerei, quando é “farei” e “direi”.
Nesses mesmos tempos, futuros do indicativo, conjugar o verbo “querer” com os alunos é uma lástima. Não aceitam as duas sílabas “re”: quererei, quereres, quererá, quereremos, querereis, quererão.
Dar a formação do imperativo exige malabarismo do professor, principalmente o afirmativo: uma parte vem do presente do indicativo menos a letra “s” (tu/vós) e a outra do presente do subjuntivo.
O pretérito mais-que-perfeito (tempo simples) é uma loucura no ensino da conjugação verbal. Ninguém o usa na linguagem cotidiana, preferem o tempo composto: comprara (tinha comprado). Nem as pessoas de bom nível intelectual têm a paciência de usá-lo. Mas existem os textos mais antigos, além disso, na língua portuguesa, os gramáticos demoram para enterrar um defunto, ficam curtindo o mau cheiro, gostam de ver o professor de Português se descabelar.
Problema maior é ensinar o verbo “ver” no futuro do subjuntivo: vir, vires, vir, virmos, virdes, virem. “Esse não é o verbo ‘vir’, professor”. Explico que o verbo “vir” faz o futuro do subjuntivo assim: vier, vieres, vier, viermos, vierdes, vierem.
Na conjugação dos verbos nos futuros do indicativo, aproveita-se para dar a colocação pronominal: mesóclise. Exercício: conjugue o verbo conduzir nos tempos futuro do presente e futuro do pretérito, ambos do indicativo, aplicando a mesóclise com o pronome pessoal, oblíquo e átono “o”: conduzi-lo-ei, conduzi-lo-ás, conduzi-lo-á, conduzi-lo-emos, conduzi-lo-eis, conduzi-lo-ão/ conduzi-lo-ia, conduzi-lo-ias, conduzi-lo-ia, conduzi-lo-íamos, conduzi-lo-íeis, conduzi-lo-iam.
Os verbos “ir” e “ser” são iguais nos tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram. Pretérito mais-que-perfeito: fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram. Futuro do subjuntivo: for, fores, for, formos, fordes, forem. Pretérito imperfeito do subjuntivo: fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem.
Tenho conscientizado meus alunos de que os dicionários, como Aurélio e Houaiss, principalmente as versões eletrônicas, são ótimos como fontes de pesquisa gramatical, pois, dentre outras coisas, apresentam a conjugação de todos os verbos.

* Hélio Consolaro é professor de Português, jornalista, escritor, membro da Academia Araçatubense de Letras e coordenador do site Por Trás das Letras.

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