Resumo da obra: O Cortiço, de Aluísio de Azevedo




O Cortiço (1890) é tido como o romance mais importante do Naturalismo brasileiro. O enredo aborda o dia-a-dia de vizinhos e moradores de um cortiço em Botafogo, no Rio de Janeiro. Alguns consideram o próprio cortiço o personagem mais importante do livro.

O cortiço como personagem
O tema do romance O Cortiço é a exploração do homem pelo homem. A redução do ser humano ao nível animal que domina a narrativa é característica naturalista, espelho das teorias darwinistas e deterministas do século XIX. Assim, uma inversão ocorre ao longo do romance, no qual o cortiço é tratado como um ser vivo e seus habitantes, como animais.
"Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. (...)
No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam as mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas."

João Romão e Bertoleza
Em paralelo, várias histórias são contadas, dentre elas a de João Romão, comerciante ganancioso e avarento amasiado com a escrava Bertoleza. Apossando-se do dinheiro que Bertoleza lhe confiara para pagar sua alforria, cobrando preços abusivos por produtos de baixa qualidade e roubando materiais de construção, João Romão consegue comprar terras e construir nelas um cortiço.
"Quando deram fé estavam amigados. Ele propôs-lhe morarem juntos, e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior a sua."

Cortiço e sobrado
Ao lado do cortiço, havia um sobrado habitado por Miranda, um comerciante bem-sucedido e sua família. Enquanto o sobrado despertava a inveja de João Romão, o cortiço despertava o temor de Miranda.

Jerônimo e Rita
Jerônimo, um imigrante português, ordeiro, trabalhador e dedicado à família, apaixona-se pelos encantos de Rita Baiana, uma antiga moradora que, após uma temporada em sua terra natal, volta ao cortiço. Por conta disso, ele se envolve em briga com Firmo, companheiro de Rita, que acaba se mudando do Carapicus (nome do cortiço de João Romão) para o Cabeça-de-Gato, um outro cortiço próximo dali.
Jerônimo arma uma cilada para o rival e o mata a pauladas. Depois abandona Piedade, sua esposa, e passa a viver com Rita. A partir daí, passa a ficar preguiçoso e malandro "como todo brasileiro". Percebe-se, nesse ponto da narrativa, a influência da teoria determinista do historiador francês Hipolite Taine, em voga na época, que dizia ser o homem produto do meio.
"Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora. (...) E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se."

A reconstrução do cortiço
Querendo vingar a morte de Firmo (então companheiro de Rita), os moradores do Cabeça-de-Gato travam luta com os do Carapicus. Um incêndio em vários barracos põe fim à briga e força Romão a reconstruir o cortiço.
Em sua nova versão, o cortiço torna-se mais sofisticado, espelho do desejo de ascensão social de João Romão, que inclui também o de se casar com Zulmira, filha de Miranda.
Fazendo isso, Romão teria esposa "fina" e sogro com título de nobreza. Só havia um empecilho no caminho de Romão: Bertoleza, escrava que, enganada por ele, acreditava-se alforriada.
"Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos móveis encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não seriam decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la-ia como criada? Impossível! Todo Botafogo sabia que eles até aí fizeram vida comum! 
(...) Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão importante e tão digno."

A traição de Romão
Romão manda, então, um aviso aos antigos donos da escrava, denunciando seu paradeiro. Bertoleza, ao ver-se novamente sem liberdade, suicida-se com a mesma faca com que limpava o peixe para a refeição de Romão.
O narrador ainda reserva para as últimas linhas do romance uma grande ironia. Depois de ver Bertoleza se matar, Romão é avisado de que estava sendo aguardado, na sala de visitas, por uma comissão de abolicionistas que vinha "respeitosamente" diplomá-lo como sócio benemérito. 


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