Unificações Alemã e Italiana


A UNIFICAÇÃO ITALIANA

A Itália, como o Congresso de Viena a definiu, nada mais era do que uma “expressão geográfica”. Ficara dividida em sete estados principais:
- o reino da Sardenha e Piemonte, ao norte.
- o reino das Duas Sicílias, ao sul.
- os Estados da Igreja.
- o reino Lombardo-Veneziano.
- o ducado de Toscana.
- o ducado de Módena.
O reino Lombardo-Veneziano pertencia à Áustria, ao passo que os Três Ducados da Itália Central, Parma, Módena e Toscana, eram governados por dependentes do Habsburgos. No período de ocupação napoleônica, a burguesia italiana do Norte prosperou; surgiram na região centros industriais ativos, onde as classes liberais, policiadas pelo sistema absolutista e intervencionista de Metternich, passaram a se agrupar em sociedades secretas.
À medida que o fervor revolucionário de 1848 se alastrava pela Península, os governantes, um após outro, concederam reformas democráticas. Logo se evidenciou, porém, que os italianos estavam mais interessados em nacionalismo do que democracia. Havia alguns anos que os patriotas românticos vinham sonhando com o Risorgimento, a ressurreição do espírito italiano que restauraria a nação gloriosa na posição de domínio que havia desfrutado na Antigüidade e na Renascença. Para consegui-lo, admitia-se universalmente que toda a Itália devia fundir-se num Estado só.

Os moderados monarquistas, partidários de uma unificação sob a forma de monarquia parlamentar, tendo por defensor Carlos Alberto, do reino Sardo-Piemontês, afirmando, também, que se a Itália desejava realmente uma independência nacional, só a conseguiria com a exclusão da Áustria dessa Liga. Os principais líderes dessa corrente eram César Balbo, D’Azeglio e Camillo di Cavour, primeiro-ministro do
reino Sardo-Piemontês. A Itália terá que “fazer-se por si” (“L’Itália fará da se” — palavras de Carlos Alberto); para isso, era necessário que predominasse um só pensamento numa só ação. O único rei partidário de uma guerra contra a Áustria era Carlos Alberto; o rei das Duas Sicílias procurava atrasar a partida das tropas que prometera.
O duque de Toscana, de origem austríaca, desconfiava da política ambiciosa de Carlos Alberto. O Papa Pio XI hesitava entre o amor à pátria e a preocupação com a universidade católica; como austríacos também eram católicos, não enviou seu contingente.
Todo o peso da guerra cabia, assim, aos piemonteses, que derrotados nas batalhas de Custozza (1848) e Novara (1849), viram restaurada a autoridade austríaca. O último a depor as armas foi Giuseppe Garibaldi. Derrotado, Carlos Alberto abdicou em favor de seu filho Vítor Emanuel II.
O movimento revolucionário de 1848/49 mostrara que a Itália ainda estava fraca militarmente;
demonstrara também ser absurda a pessoa do Papa como líder do movimento unificador. Caíram os partidários de Gioberti.
Vítor Emanuel II escolheu para chefe de seu ministério Massimo D’Azeglio, símbolo do patriotismo na Itália, o qual cuidou da reorganização interna do reino, em moldes liberais. O general La Marmora, à frente do Ministério da Guerra, procurava reorganizar o exército do ponto de vista da disciplina, instrução e armamentos, para fazê-lo reencontrar o prestígio perdido em Custozza e Novara. À frente do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, estava o diretor do jornal “Risorgimento”, Camillo di Cavour.
A situação era difícil para o Piemonte (esse reino tinha apenas 5 milhões de habitantes contra 37 milhões da Áustria), que possuía agora dois inimigos: a Áustria e os Estados Pontifícios; as demais potências eram indiferentes à questão. Entretanto, o panorama internacional mudou quando a França e a Inglaterra iniciaram contra a Rússia a Guerra da Criméia. Para atrair a Inglaterra e a França à causa da unidade italiana, Cavour ofereceu-lhes ajuda do Piemonte, sem procurar obter promessas de vantagens (1855). Finda a guerra, Cavour compareceu ao Congresso de Paris (1856) como representante do Estado mais fraco, tomou atitudes reservadas nas questões que não lhe interessavam, mas procurou atrair a atenção de
seus colegas franceses e ingleses para a causa italiana. Chamando a atenção das potências européias para Piemonte, esse reino passou a ser oficialmente o protetor dos italianos oprimidos. O governo austríaco protestou contra as pretensões do Piemonte de falar em nome de toda a Itália; mas esta, de um modo geral, acolheu bem a idéia da proteção que lhes oferecia Cavour.
Procurando o apoio dos patriotas, entre os quais Garibaldi, Cavour conseguiu fundar a Sociedade
Nacional, que tinha por missão proteger na Península todos os que desejassem se unir ao Piemonte para realizar a obra de libertação da Itália. Foram chegando então ao Piemonte numerosos emigrados que passavam a ocupar não apenas cadeiras nas Universidades, como também lugares no Parlamento.
Preparava-se assim, na cosmopolita Turim, capital do Piemonte, a unidade italiana.
O Piemonte, numa calma aparente, armava-se cada vez mais; suas forças, porém, não eram suficientes para enfrentar a Áustria. De seu lado, Napoleão III, à frente do Governo Francês, desejava, como prote tordas nacionalidades, auxiliar o Piemonte; entretanto, adiava sempre o momento, a fim de não descontentar os católicos de seu país, já que as terras do Papa seriam forçosamente anexadas à Itália unificada.
Deu-se então, o encontro do Plombières (1858) entre Cavour e Napoleão III, que não passou de mero acordo verbal, embora lançasse as bases de uma futura aliança entre a França e o Piemonte, a fim de afastar a Áustria da Itália. No ano seguinte, uma aliança política redigiu de forma concreta os acordos estabelecidos verbalmente em Plombières: ficava estabelecido que o Piemonte teria o auxílio francês, mas só no caso de um ato agressivo da Áustria.
Cavour iria então provocar essa agressão, aumentando o efetivo do Piemonte; a Áustria protestou e exigiu o desarmamento do Piemonte, que recebeu o ultimato como uma declaração de guerra.
Apesar de estar-se saindo vitorioso, a situação política não permitiu que Napoleão III continuasse a guerra.
É que havia, externamente, o perigo da Prússia, que se armava para conseguir a unificação da Alemanha em seu proveito e, internamente, o descontentamento dos católicos franceses que não apoiavam a causa italiana.
Assim, foram suspensas as hostilidades, para que os franceses e austríacos fixassem as preliminares de paz em Villafranca (julho de 1859) que foram as seguintes: a Áustria cedia a Lombardia ao Piemonte, os Estados italianos passariam a constituir uma Confederação presidida pelo Papa, a Venécia, embora fizesse parte dessa Confederação, continuaria a pertencer à Áustria. A desilusão provocada na Itália por essas preliminares de paz foi imensa.
Assim sendo, em março de 1860, um plebiscito anexava os Estados centrais aos domínios do Piemonte; por sua vez, Cavour entregava à França a Sabóia, berço da casa reinante do Piemonte, e Nice, terra de Garibaldi, que, por esse motivo, atacou violentamente o Primeiro-Ministro do Parlamento. A partir daí, a unificação italiana passaria a ser feita por etapas, através de anexações.
Em outubro de 1860, a Expedição dos Mil, sob o comando de Garibaldi, atacava e conquistava o Reino das Duas Sicílias, que desde o ano anterior sofria ante o Absolutismo de Francisco II, filho e sucessor de Fernando II. Daí, partia Garibaldi para atacar as terras do Papa Pio XI; em novembro de 1860, o território pontifício ficava restrito unicamente ao Lácio, onde estava Roma.
A 08 de fevereiro de 1861, Vítor Emanuel II era proclamado rei da Itália, embora restasse ainda resolver as questões do Lácio e da Venécia. A fim de preparar-lhe o caminho, Cavour enviou, em princípios de 1861, o general Afonso La Marmora para felicitar Guilherme I por sua ascensão ao trono da Prússia; o general italiano levava instruções para transmitir aos prussianos que, “por analogias existentes entre as tendências históricas da Prússia e as do Piemonte, os italianos tinham por hábito considerar a Prússia como um aliado natural”. Com isso, aproveitando-se da guerra austro-prussiana, o Piemonte aliou-se à Prússia; vencidos em Sadowa, os austríacos entregaram pelo Tratado de Praga (1866) a Venécia à Itália. Cavour, que morrera a 06 de junho de 1861, não pôde assistir à anexação da Venécia; essa vitória porém lhe cabia, pois foi dele a idéia de aproximar o Piemonte da Prússia, através da missão La Marmora. Não conseguiu também ver o final da Questão Romana que ele próprio encaminhara. Os discursos que fez alguns meses antes de morrer levou o Parlamento italiano a reivindicar a união de Roma à Itália, como capital aclamada pela opinião nacional. Entretanto, a ocupação de Roma deixava de ser apenas italiana, pois ela era antes de tudo a capital da Igreja Católica, com adeptos em todos os países. O Papa Pio XI, que se recusava a reconhecer a anexação de seus territórios ao Piemonte, havia excomungado Vítor Emanuel II e seus ministros. Por sua vez, Roma, desde 1849, encontrava-se garantida pela ocupação militar francesa, quando o Papa se viu cercado pelos revoltosos por haver-se negado a enviar tropas para lutarem contra a Áustria. Enquanto essa situação perdurasse, qualquer ataque a Roma provocaria um conflito armado com a França.
Reconhecendo oficialmente o Reino da Itália, Napoleão III obteve a promessa de Vítor Emanuel II de que não tentaria invadir Roma, que assim, no prazo de dois anos, seria evacuada; foi esse o objetivo da Convenção de Setembro (14 de setembro de 1864). Entretanto, só em agosto de 1870, diante do perigo da guerra franco-prussiana, é que as tropas francesas deixaram Roma. Com a queda do Segundo Império (04 de setembro de 1870), Vítor Emanuel II considerou-se desligado dos compromissos feitos ao Imperador na Convenção de Setembro; assim, Roma foi invadida quando um plebiscito posterior consagrava a anexação.
Roma tornava-se capital da Itália, enquanto Pio XI fechava-se no Palácio do Vaticano, considerando-se prisioneiro. Em 1871, o Parlamento italiano promulgou a Lei das Garantias Pontifícias, a qual se propunha definir a situação do Papa como soberano reinante. Era-lhe conferida plena autoridade sobre os edifícios e jardins do Vaticano e de Latrão, bem como o direito de nomear e receber embaixadores. Além disso, era-lhe dada a franquia dos correios, telégrafos e estradas de ferro da Itália e destinava-lhe, a título de indenização, uma pensão anual de aproximadamente 645.000 dólares. Pio XI imediatamente rejeitou essa lei sob a alegação de que os assuntos que diziam respeito ao Papa resolver-se-iam por um tratado internacional com a sua própria participação. Entretanto, fechou-se no Vaticano e recusou ter qualquer contato com “um governo que tratara tão vergonhosamente o vigário de Cristo na Terra”.
A solução para a Questão Romana só veio em 1929, com o Tratado de Latrão, assinado entre Pio XI e Benito Mussolini. Segundo ele, o papado permaneceria soberano da Cidade do Vaticano, que seria assim um Estado independente, bem como seus anexos, Latrão e Castel Gandolfo.



A UNIFICAÇÃO ALEMÃ
O Congresso de Viena (1815) terminou com a Confederação do Reno, criada por Napoleão I,
substituindo-a pela Confederação Germânica, formada por 39 Estados soberanos. Esse ato unia os príncipes e as cidades livres, por meio de uma Dieta indissolúvel, cujo objetivo era “a manutenção da segurança interna e externa e a independência e a integridade dos Estados particulares”. Faziam parte da Confederação Germânica (Deutshcer Bund), além dos pequenos Estados, cinco Reinos; Prússia (apenas a parte ocidental), Hanover (que por herança pertencia ao rei da Inglaterra), a Baviera e o Wurtemberg, além de quatro cidades livres: Frankfort, Hamburgo, Lubech e Bremen. Independentes, os Estados Alemães tinham suas barreiras aduaneiras próprias e isso constituía um entrave ao desenvolvimento do comércio na região. Faziam parte da Confederação Germânica dois Estados: a Prússia e a Áustria, que haviam comparecido ao Congresso de Viena como grandes potências; logo esses dois Estados iriam transformar-se em rivais dentro dessa organização política.
Procurando afastar a Áustria da Confederação, a Prússia iniciou a primeira etapa da unificação da
Alemanha dentro do setor econômico. Conseguiu assim, aos poucos, formar o Sollverein (Zoll = alfândega e Verein = união), com os diferentes Estados da Confederação. Trata-se de uma união econômica fixada nos seguintes termos: abolição dos direitos alfandegários internos sobre matérias-primas, sistema alfandegário idêntico em todos os territórios, uniformidade de moedas, pesos e medidas, órgão especiais para supervisionar o comércio, bem como conferências anuais para as devidas informações e modificações do sistema, por consentimento unânime.
A Áustria, que até então vivera no sistema medieval protecionista, desejou também entrar no Zollverein. A Prússia não o desejava, mas os estados do sul eram favoráveis à admissão da Áustria. Graças à assinatura de um acordo, a Prússia conseguiu conservar a Áustria fora do Zollverein, prometendo admiti-la mais tarde.
Unido pelo Zollverein, o grande desenvolvimento comercial e industrial experimentado pelos estados alemães levou-os a conseguir transformar a Dieta Frankfort em Parlamento eleito (1848). Teve início, então, uma tentativa de união política; a Prússia passou a negociar com os diversos príncipes o estabelecimento de uma união restrita, sem a participação da Áustria. Estava sendo bem-sucedida, mas quando a Áustria se viu livre das revoltas que enfrentara na Hungria e Itália (1849), resolveu, com o apoio da Rússia, voltar-se contra a Prússia. Encontraram-se em Olmutz os representantes austríacos e prussianos;
a ameaça de uma guerra fez a Prússia recuar, daí o episódio ser conhecido como Humiliação de Olmtz. Em seguida, a Áustria restabeleceu a Dieta Germânica de Frankfort sob sua preponderância (1850), em lugar da tentativa liberal de um Parlamento.
Quando, em 1860, Cavour animava a Expedição dos Mil, sob o comando de Garibaldi, a atacar o Reino das Duas Sicílias, a Prússia lhe fez saber que não podia apoiar essa política, embora ambos tivessem a Áustria como inimiga comum à unificação. A resposta de Cavour ao enviado prussiano foi profética: “Eu dou o exemplo que, provavelmente, dentro de pouco tempo, a Prússia se sentirá feliz em imitar”.
Para tornar a Prússia uma potência militar, o ministro da Guerra, Von Roon, necessitava de muito dinheiro e o Landtag (assembléias deliberativas dos estados alemães recusava-se a votar com antecedência esse crédito anual. Desesperado, Guilherme I tentou abdicar, no que foi impedido por Von Roon, que o aconselhou a chamar o embaixador prussiano em Paris, Otto Von Bismarck, pois ele resolveria a questão. De fato, contrariando a oposição interna do Landtag, ele levou avante a reforma militar; entregou a empresa a Von Roon, conservado no Ministério da Guerra e que contava com o auxílio do Von Moltke, chefe do Estado-Maior.
Governando sem o Landtag, conseguiu o que o programa de 1860 previa para o exército: aumento dos efetivos permanentes, serviço militar de três anos e homens na reserva até os 32 anos; pronto o exército, o sucesso da política exterior explicaria a atitude de Bismarck que colocou as demais questões internas e plano secundário. A partir daí, a obra de Bismarck consistiu em preparar diplomaticamente três guerras
com a finalidade de formar em redor da Prússia a sonhada unidade alemã, contra a qual inúmeros obstáculos internos e externos se levantaram.

A GUERRA DOS DUCADOS
Para iniciar, Bismarck sonhava ver a Prússia instalada nos ducados de Holstein e Schleswig (habitados principalmente por alemães e que se encontravam, por determinação do Congresso de Viena, sob o domínio da Dinamarca), onde o porto de Kiel lhe convinha em particular. Por isso, atraiu a Áustria a uma guerra com a Dinamarca. Iniciada a chamada Guerra dos Ducados, os dinamarqueses logo foram vencidos. Pela Paz de Viena (1864), a Dinamarca entregava os ducados aos dois aliados. Reunidos em Castein (1865), os soberanos austríaco e prussiano resolveram que a Áustria administraria o Holstein, encarregando-se a Prússia do Schleswig. A Prússia, porém, além de se instalar em Kiel, obteve também o direito de abrir através do Holstein um canal ligando o Báltico ao mar do Norte. A passagem dos prussianos pelo Ducado de Holstein, entregue aos austríacos, redundaria numa série de conflitos; estes serviriam de pretexto para a segunda guerra arquitetada por Bismarck - a guerra contra a Áustria.
A GUERRA AUSTRO-PRUSSIANA
Para assegurar-se de sua plena vitória numa luta contra a Áustria, Bismarck teve primeiro de garantir-se com a neutralidade da França. Para isso, entrevistou-se em Biarritz com Napoleão III, que, arvorando-se em defensor das nacionalidades, desejava entregar a Venécia, então em poder dos austríacos, aos italianos. Para conseguir a neutralidade da França num conflito contra a Áustria, a Prússia aceitou a imposição de Napoleão III e fez uma aliança com o Piemonte, prometendo entregar-lhe a Venécia. A Áustria, apesar de constantemente provocada pelos prussianos no Holstein, procurava sempre evitar a guerra. Entretanto, após conseguir espalhar o boato de que os austríacos, em atitude belicosa, armavam-se, Bismarck levou à Dieta de Frankfort um projeto, propondo a exclusão da Áustria da Confederação. A Áustria, que tinha a maioria na Dieta, conseguiu dessa uma mobilização dos Estados Confederados contra
a Prússia; Bismarck, declarando dissolvida a Confederação, lançou um apelo nacionalista ao povo alemão, mas não foi ouvido. Fortemente armado, o exército prussiano foi rapidamente mobilizado antes mesmo que os demais estados alemães pudessem fazê-lo; as tropas austríacas, além da mobilização lenta, tiveram ainda que se dividir com a entrada do Piemonte na guerra.
Para surpresa geral, as operações iniciadas pela Prússia foram rápidas, bastaram alguns dias para serem vencidos os principais Estados que se haviam mantido fiéis à Áustria. No final, defrontaram-se o exércitos prussiano, comandado por Von Moltke, e austríaco, tendo a frente Benedeck; a batalha de Sadowa (1866) marca o encontro decisivo.
Assinado o Tratado de Praga (1866), destacaram-se as seguintes cláusulas:
a Áustria reconhecia a dissolução da antiga Confederação Germânica, tal qual existira até então, e
não se oporia a uma nova organização da Alemanha, da qual ela não faria parte.
-reconhecia ainda a anexação dos Ducados de Holstein e Schleswig pela Prússia; salvo os distritos donorte do Schleswig, cujas populações, livremente consultadas, desejaram permanecer ligadas à
Dinamarca.
-a integridade do Império Austríaco seria mantida, salvo a Venécia, que passaria a pertencer aos
italianos do Piemonte.

A Guerra franco-prussiana

Bismarck se utilizou dos acontecimentos para levantar o nacionalismo alemão contra a França, agora que aÁustria fora afastada de vez.
Com prudência e habilidade, Bismarck encaminhava os estados alemães para a unidade, assinando com eles tratados secretos de aliança militar ou de caráter político-econômico. Mas, Napoleão III, acossado pela oposição interna desde o Tratado de Praga, não desejava sofrer nova decepção; criava assim todos os obstáculos possíveis à unificação alemã, pois não desejava ter uma nação forte em sua fronteira. A França seria por isso a próxima inimiga a vencer; Bismarck sabia que a Prússia estava pronta e conhecia as falhas do exército francês, desmoralizado e diminuído pela campanha do México. O ministro prussiano procurava apenas um pretexto para o início das hostilidades. Este surgiu num incidente diplomático a respeito da questão de sucessão ao trono espanhol e a candidatura Hohenzollern. Em setembro de 1868, Isabel II foi deposta por uma revolução, deixando vago o trono espanhol. O General Prim, Ministro da Guerra do Governo Provisório, ofereceu a coroa ao príncipe Leopoldo Hohenzoller, primo de Guilherme I da Prússia. A França se opôs a tal projeto, dirigindo-se a Berlim em vez de procurar primeiro Madrid. A forte pressão que fizeram sobre Guilherme I, a Rússia e a Inglaterra, aliadas à França nesta questão, fizeram-no aconselhar ao primo a renunciar às pretensões ao trono espanhol. Isso para a França foi um sucesso diplomático e Bismarck pensou até em demitir-se. Mas a França, não se dando ainda por satisfeita, mandou Benedetti procurar novamente o rei da Prússia
para obter um compromisso de que tal candidatura jamais seria proposta. Guilherme I, acreditando haver liquidado a questão, recebeu com surpresa a nova exigência francesa. Não podendo receber em audiência a Benedetti, pois deixava naqueles dias Ems com destino a Berlim, mandou-lhe responder por seu ajudante-de-ordem que considerava a questão terminada. O embaixador francês não tomou tal atitude como uma ofensa, e a prova é que foi até a estação despedir-se do rei que retornava a Berlim.
Sobre o caso, Guilherme I envia um despacho a Bismarck, que o publica resumidamente, modificando assim o espírito da questão. O Despacho de Ems foi tomado como um insulto ao embaixador francês e explorado num artigo publicado na “Gazeta da Alemanha do Norte”. O trecho deturpado do Despacho de Ems foi conhecido em Paris; pressionado pela opinião pública, que não esperou ao menos Benedetti para as devidas explicações, Napoleão III viu-se obrigado a declarar guerra à Prússia, atraindo contra a França a opinião pública do mundo civilizado, pelas aparências de uma agressão injustificada.
A Rússia prometeu a Bismarck invadir a Áustria, caso essa potência viesse em auxílio da França. A Inglaterra, eternamente desconfiada com o Império Francês, ficou neutra; a Itália só ajudaria a França se essa lhe garantisse a posse de Roma, o que não era possível, por causa dos católicos franceses. Assim, a França ficava sozinha diante de uma Europa indiferente ou hostil.
As operações militares tiveram início em agosto de 1870 e já no dia 1º de setembro Napoleão III era vencido em Sedan sobre o rio Moza; Von Moltke exigiu a rendição sem condições e, no dia seguinte, era assinada a capitulação de Metz. Ao saber do fato, a oposição interna determinou a queda do 2º Império, sendo proclamada a Terceira República.
A guerra, porém, continuou, pois os republicanos franceses declararam que não cederiam Strasburgo reclamada por Bismarck. De derrota em derrota, eis Paris irremediavelmente sitiada, onde a população sofria grandes privações. A 04 de fevereiro de 1871, o governo provisório francês se resignou às negociações, o Tratado de Frankfort (maio de 1871) cedia à Alemanha toda a Alsácia, 1/3 de Lorena e pesada indenização de guerra.
A Alemanha estava unificada e sua proclamação se fizera na própria França, no Palácio de Versalhes (Galeria dos Espelhos).

O Império Alemão
Constitucionalmente, o Império assemelhava-se a um Estado Federativo, constituído de 25 membros com importância própria. Cada um dos 25 Estados conservava sua Constituição, seu soberano e certo número de atribuições. O governo assim criado não tinha senão dois característicos por que podiam ser positivamente considerados como democráticos: por um lado, o sufrágio universal masculino nas eleições nacionais e, pelo outro, o Parlamento com uma Câmara Baixa, ou Reichstag, eleita por voto popular. A outros respeitos, o sistema se adaptava muito bem ao governo conservador. Ao invés de copiar o sistema de gabinetes, o Chanceler (Bismarck foi o primeiro) e os demais ministros eram responsáveis unicamente perante o imperador. Esse não era um simples chefe nominal, disposto ao contrário de extensa autoridade
sobre o Exército e a Marinha, as relações exteriores, a promulgação e a execução das leis. Podia, ademais, declarar a guerra se as costas ou o território do Império fossem atacados, e na qualidade de rei da Prússia controlava um terço dos votos no Bundesrat, Câmara Alta do Parlamento Imperial. Não obstante, o império alemão não era uma autocracia completa. Embora o Kaiser pudesse influenciar a promulgação das leis, não tinha o direito de veto. Todos os tratados que negociasse tinham de ser aprovados pelo Bundesrat e não podia obter dinheiro sem o consentimento do Reichstag. Na verdade, esse último órgão estava longe de ser uma simples sociedade de debates, como alegaram muitas vezes os inimigos da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Pelo contrário, tinha poderes legislativos virtualmente equivalentes aos de Bundesrat e foi bastante forte para arrancar concessões a diversos chanceleres.
Bismarck, visando à consolidação da unificação, realizou diversas modificações:
- a unificação dos códigos de leis.
- aumento dos impostos indiretos, que eram a principal fonte de renda do Governo Imperial.
instituição do marco como moeda única para o Império, bem como a criação do Reichbanck, que
possuía o monopólio na emissão de moedas.
- estatização das estradas de ferro.

Como a república na França, o novo Império Alemão também teve suas desavenças com a Igreja. O movimento anticlerical alemão dos século XIX é conhecido como Kulturkampf, ou “luta pela cultura”, iniciada por Bismarck em 1872. Os motivos de Bismarck eram quase que exclusivamente nacionalistas.
Percebeu em certas atividades católicas uma ameaça ao poder do Estado que acabava de criar.
Desagradava-lhe principalmente o apoio que os padres católicos continuavam a dar ao movimento em prol dos direitos dos Estados da Alemanha Meridional e à queixas dos alsacianos e poloneses. Além disso, estava ansioso por obter um apoio mais entusiasta da parte dos “nacional-liberais” burgueses no fortalecimento das bases do novo Império. Por essas razões resolveu-se desferir tamanho golpe na influência católica na Alemanha que essa nunca mais pudesse tornar-se um fator de importância na vida política nacional ou local: em primeiro lugar, induziu o Reichstag a expulsar todos os jesuítas do país. Em seguida, fez passar no Landstag prussiano as chamadas Leis de Maio, que colocavam os seminários sob o controle do Estado e capacitavam o governo a regular a nomeação de bispos e padres. Ninguém poderia ser nomeado para qualquer cargo eclesiástico se não fosse cidadão alemão e, ainda assim, somente depois de um exame oficial. Ao mesmo tempo, era estabelecida a obrigatoriedade do casamento civil.
Embora Bismarck houvesse ganho algumas batalhas mais importantes da Kulturkampf, acabou perdendo a campanha. Foram diversas as causas desse fracasso. Em primeiro lugar, o Chanceler incompatibilizou-se com os seus adeptos progressistas por haver recusado atender-lhes às exigências de responsabilidade para os ministros. Em segundo lugar, o partido católico, ou do centro, bateu-se tão eficazmente em favor do clero perseguido e adotou um programa econômico tão eficiente, que se tornou o partido mais forte da Alemanha. Nas eleições de 1874, conseguiu quase um quarto das cadeiras do Reichstag. Em terceiro lugar, Bismarck estava alarmado com o desenvolvimento do socialismo e sobressaltou-se ainda mais quando os campeões dessa filosofia, os social-democratas, fizeram aliança com os centristas. Se continuassem a crescer no mesmo ritmo, esses dois partidos não tardariam a constituir maioria no Reichstag. Na esperança
de impedir tal resultado, Bismarck relaxou a perseguição aos católicos. Entre 1878 e 1886, foi revogada quase toda a legislação e a Kulturkampf caiu no ouvido, como tantos outros erros dos estadistas. A Igreja Católica foi, assim, praticamente restituída à sua antiga posição na Alemanha.

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