País decide nas urnas futuro sem Estados Unidos

A eleição parlamentar no Iraque, ocorrida no último dia 7 de março, foi a segunda e a mais importante realizada desde a queda da ditadura de Saddam Hussein em 2003. O que está em jogo é a estabilidade política do país após a saída das tropas americanas, ano que vem, em uma das regiões mais conflituosas do planeta.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Não será uma tarefa fácil. Primeiro, porque a sociedade iraquiana é formada por três grupos étnicos e religiosos que brigam entre si pelo poder há séculos. Os árabes perfazem entre 75% e 80% da população, de 29 milhões de habitantes. Os curdos estão entre 15 e 20% desse total. A principal religião é a mulçumana, dividida entre xiitas (60 a 65%) e a minoria sunita (32% a 37%). Os sunitas governaram o país desde sua criação, em 1920, mas hoje têm pouca expressão política.

Por isso, independente de quem seja vencedor da eleição, a composição que governará o Iraque precisa oferecer representatividade a esses diversos grupos religiosos e étnicos. Se não for assim, há o risco de insurreições e guerras, como ocorreram no passado.

Em segundo lugar, o país não possui nenhuma tradição democrática, assim como praticamente todo o Oriente Médio. Árabes votando é algo raro em uma região pontuada por regimes ditatoriais e teocracias.

O Iraque é uma das civilizações mais antigas do mundo, que viveu séculos de ocupação estrangeira e guerras. Apesar de ser rico de minérios, ele é hoje um dos países mais violentos do mundo, com problemas de corrupção e infraestrutura e serviços precários.

Era Saddam Husseim

Após quatro séculos de domínio do Império Otomano (1533-1918) e como colônia européia (1921-1958), o país sofreu sucessivos golpes de Estado até que o partido do sunita Saddam Hussein chegou ao poder, em 1968.

Eleito presidente em 1979, Saddam ficou 24 anos à frente de uma das ditaduras mais sangrentas da região (ele foi responsabilizado pelo massacre de 148 xiitas, ocorrido em 1982, após sofrer uma tentativa de assassinato).

Nesse período, o Iraque se envolveu em três guerras no Golfo Pérsico: a primeira contra o
Irã (1980-1988), quando Saddam tinha apoio de Washington; a segunda quando invadiu o Kwait (1990), a qual seguiram-se severos boicotes e sanções; e a terceira, quando foi invadido Estados Unidos (2003).

Os Estados Unidos entraram no Iraque em 20 de março de 2003, com apoio do
Reino Unido. Na ocasião, o governo de George W. Bush (2001-2009) acusou Saddam Hussein de ligação com os atentados de 11 de Setembro e de possuir armas de destruição em massa, fatos que nunca foram comprovados. O verdadeiro motivo da guerra seria garantir o controle das reservas de petróleo do Iraque (ver livro indicado abaixo).

O ditador iraquiano foi deposto, capturado ao final daquele ano e condenado à morte em dezembro de 2006. Para os Estados Unidos, no entanto, era apenas o começo de uma das guerras mais longas, caras e mortíferas, só perdendo para o
conflito do Vietnã (1959-1975). Somente a guerra do Iraque já custou US$ 711 bilhões aos cofres americanos e deixou um saldo de 4.700 soldados mortos, sendo 4.386 americanos.

Enquanto as tropas eram alvos de atentados terroristas no Iraque (ver filme indicado abaixo), escândalos como a justificativa fraudulenta para a invasão e os abusos cometidos contra presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib mancharam a imagem da Casa Branca perante o mundo.

Isso começou a mudar com a posse de
Barack Obama, em 2009. Obama assumiu o compromisso de retirar a maior parte dos combatentes até 31 de agosto de 2010. No entanto, hoje há aproximadamente 96 mil soldados americanos no Iraque e metade desse contingente lá deve permanecer, sendo removido gradualmente até 31 de dezembro de 2011. Somente depois disso, o Iraque conquistará de novo sua independência.

Votação e atentados

No dia 7 de março, os iraquianos compareceram às urnas em meio a atentados terroristas. Ao menos 38 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em 20 explosões que destruíram dois prédios na capital Bagdá. A fronteira com o Irã foi fechada e o exército foi mobilizado para garantir a segurança dos eleitores.

Foi o segundo pleito desde a queda de Saddam. Em 30 de janeiro de 2005, os sunitas boicotaram as eleições, que terminaram com a vitória de uma coalizão partidária xiita e a eleição, em 6 de abril, do líder curdo Jalal Talabani para a Presidência. Dessa vez, foi registrado maior comparecimento entre as províncias de maioria sunita.

O país tem 18,9 milhões de eleitores e 60% votaram nesta última eleição, índice inferior a 2005 (75%). Eles irão escolher os 325 novos integrantes do Parlamento e, possivelmente, um primeiro ministro e presidente.

Três grupos principais disputam os votos dos iraquianos. O atual premiê xiita Nouri al-Maliki, líder do Estado de Lei, é o favorito na corrida. O principal rival é o ex-primeiro-ministro Ayad Allawi, candidato da coligação Iraqiya, de xiitas e sunitas. Ambas as coligações partidárias são de tradição secular, diferente da Aliança Nacional Iraquiana, de Moqtada al-Sadr, composta por xiitas religiosos. O maior risco seria esse último grupo vencer, o que marginalizaria ainda mais os iraquianos sunitas.

Os resultados não devem diferir do governo atual, de xiitas governando com apoio dos curdos. Espera-se, porém, que aja mais participação da minoria sunita.

Os desafios do novo governo serão atender população carente, garantir a segurança e a governabilidade após a saída das tropas americanas. Se conseguir isso, o Iraque poderá ser uma das poucas nações árabes verdadeiramente democráticas da história.

Direto ao ponto
A eleição parlamentar no Iraque, ocorrida no último dia 7 de março, foi a segunda e a mais importante realizada desde a queda da ditadura de Saddam Hussein em 2003. O desafio é garantir a estabilidade política do país após a saída das tropas americanas, ano que vem, e manter a paz com os vizinhos no Oriente Médio.

Há duas dificuldades nessa empreitada: primeiro, conciliar uma sociedade dividida em grupos étnicos (árabes e curdos) e religiosos (xiitas e sunitas); e, segundo, a tradição de regimes ditatoriais e teocráticos no Oriente Médio, que desconhecem a prática da democracia.

Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 20 de março de 2003, após os ataques do 11 de Setembro. Desde então, enfrentam uma das guerras mais caras, sangrentas e duradouras de sua história. Por isso, o presidente Barack Obama, eleito ano passado, assumiu o compromisso de retirada gradual das tropas até o final de 2011. Quando isso acontecer, os iraquianos ficarão por conta própria.

As eleições ocorreram em meio a atentados terroristas que mataram 38 pessoas. Serão eleitos 325 novos integrantes do Parlamento e, possivelmente, um primeiro ministro e presidente. Os resultados não devem diferir do governo atual, de xiitas governando com apoio dos curdos e, talvez, uma maior participação da minoria sunita, equilibrando o poder.

Saiba mais

  • Iraque - Plano de Guerra (Bertrand Brasil): livro do ativista inglês Milan Rai que explica as razões do conflito no Iraque por trás das justificativas oficiais do governo americano, assim como suas consequências para a economia internacional e o Oriente Médio.

  • Guerra ao Terror (2009): ganhador de seis prêmios no Oscar 2010, o filme conta a difícil rotina dos soldados americanos no Iraque.
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