Uma das drogas mais rentáveis do mundo, a cocaína, movimenta cerca de US$ 50 bilhões por ano segundo relatório divulgado nesta quarta-feira pelo UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), ligado à ONU (Organização das Nações Unidas).
A análise do diretor executivo do UNODC, Antonio Costa, é que enquanto os índices de pureza e o número de apreensões --nos principais países consumidores-- estão diminuindo, os preços estão aumentando, e os padrões de consumo estão em evolução. "Isso pode ajudar a explicar o terrível aumento nos índices de violência em países como o México. Na América Central, os carteis estão disputando um mercado em retração", disse Costa.
O documento foi lançado em Washington (EUA) e tem 314 páginas. Ele foi elaborado devido ao Dia Internacional contra o Tráfico e o Abuso de Drogas, lembrado na próxima sexta-feira (26).
O documento aponta que a produção de cocaína em 2008 foi de 845 toneladas, a menor dos últimos cinco anos.
O fator determinante para a queda foi o declínio de produção na Colômbia, país que produz a metade da cocaína no mundo. Houve redução de 18% no cultivo e uma redução de 28% na produção da droga, em comparação com 2007. A contrapartida é que mercados emergentes da droga, tais como Peru e Bolívia, apresentaram elevação.
Segundo o diretor executivo, a queda na apreensão do produto na África Central deve ter como reflexo a diminuição do fluxo de cocaína após cinco anos de intenso crescimento. Entretanto, ele afirmou que o binômio violência e instabilidade política relacionada às drogas, como é o caso de Guiné-Bissau, só poderá ser erradicado com o auxílio da Europa. "Enquanto houver demanda por drogas, os países mais vulneráveis continuarão sendo alvos dos traficantes. Se a Europa realmente quiser ajudar a África, deve diminuir seu apetite por cocaína", disse Costa.
Apreensões
Outra droga que apresentou queda na produção foi o ópio no Afeganistão, país responsável por 93% da produção mundial de droga. No país da Ásia Central o cultivo apresentou retração de 19% em 2008.
Segundo o documento, apenas 41% de cada 100 kg de cocaína produzida no mundo é apreendido. O país onde mais se apreende a droga é na Colômbia, responsável pela produção de 50% da escalada mundial.
Apesar de pequena se comparado com tudo que é produzido, a apreensão de cocaína é muito superior aos opiáceos (ópio, morfina e heroína) interceptados. Apenas 19% de opiáceos do mundo são apreendidos, em sua maior parte nos países como Irã e Paquistão.
Em 2007, o Irã apreendeu 85% do ópio produzido no mundo e 28% de toda a heroína. O Paquistão está na segunda posição em termos de apreensões de heroína e morfina, segundo o relatório.
O UNODC cita ainda o Afeganistão. O debate sobre o tema será levado em forma de mensagem para uma reunião ministerial do G8 sobre o Afeganistão em Trieste, no dia 27 de junho. "Quanto mais ópio for apreendido no Afeganistão e em seus vizinhos, menos heroína haverá nas ruas da Europa. E vice-versa: quanto menos heroína for consumida no Ocidente, mais estáveis estarão os países da Ásia Ocidental", disse Costa.
Maconha
O documento aponta que a maconha continua sendo a droga mais cultivada e consumida no mundo. Segundo o texto, o índice médio do THC (princípio ativo) quase dobrou na última década em drogas apreendidas na América do Norte.
A potencialização do componente danoso da maconha traz grandes implicações à saúde, evidenciada pelo aumento significativo no número de pessoas em busca de tratamento.
Países da América do Norte, Oceania e Europa Ocidental são os maiores consumidores de maconha do mundo. A América do Norte e Europa Ocidental também lideram quando o assunto é consumo de cocaína.
Sintéticas
Os dados mostram uma evolução na produção e no consumo de drogas sintéticas em países em desenvolvimento. Por outro lado o consumo de anfetaminas, metanfetaminas e ecstasy se estabilizou em países desenvolvidos.
O relatório da UNODC mostra que houve uma mudança na produção. O que antes era artesanal agora assumiu grande escala de produção em laboratórios do sudeste Asiático, região onde está sendo produzida quantidades massivas de comprimidos de metanfetaminas, crystal meth (conhecida como ice) e outras substâncias como a quetamina.
Países da União Européia são os principais fornecedores de ecstasy e o Canadá se transformou no principal eixo de tráfico de meth e ecstasy.
Um terço de toda a apreensão de anfetaminas no mundo foram feitas na Arábia Saudita, mais do que o montante da China e Estados Unidos juntos.
Investimentos e injetáveis
O relatório se mostra contrário à legalização de drogas ilícitas e ressalta que a melhora no enfrentamento do problema exige maior atenção à prevenção e ao tratamento de usuários, por meio de investimentos sociais
A constatação é de que o cultivo ilícito e a venda de drogas se mostram mais fortes em regiões sem presença do Estado ou nas quais a ordem pública é frágil.
O documento aponta ainda que o Brasil está entre os quatro países que tem maior número deusuários de drogas injetáveis. Por consequência dessa prática, o Brasil figura entre os nove países com maiores índices de contaminação do vírus HIV no mundo.
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