O mundo enfrenta um crescente risco de mudanças climáticas bruscas e irreversíveis por causa de um aquecimento global mais forte que o previsto, segundo um relatório de cientistas internacionais divulgados nesta quinta-feira. Um documento de 36 páginas sintetizou mais de 1.400 estudos apresentados na conferência sobre o clima realizada em março passado, em Copenhague, onde, em dezembro próximo, será realizada a reunião das Nações Unidas para negociar um acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.
Segundo o informe, a superfície global e a temperatura dos oceanos, os níveis do mar, os acontecimentos climáticos extremos e o degelo do Ártico estão se intensificando mais significativamente e mais rápido do que haviam previsto os especialistas há apenas alguns anos. O relatório revela que as emissões de gases de efeito estufa e outros indicadores climáticos estao próximos dos limites previstos pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre a Mudança Climática (IPCC), cujo informe de 2007 foi o ponto de referência para as turbulentas conversações na ONU.
Também há novas provas de que o próprio planeta começou a contribuir para o aquecimento global em consequência da atividade humana. Grandes quantidade de gases como o metano - um gás de efeito estufa, inclusive mais forte que o dióxido de carbono - presos durante milênios na camada subterrânea do gelo ártico podem estar começando a se filtrar na atmosfera, acelerando o processo de aquecimento. A capacidade natural dos oceanos e das florestas de absorver o CO2 originado pela queima de combustíveis fósseis também está em perigo, demonstrou a pesquisa.
O novo informe, escrito e revisado por muitos dos cientistas que compilaram o documento do IPCC, pede que os políticos tomem atitudes urgentes para evitar que a temperatura média global aumente mais de dois graus centígrados em comparação com os níveis pré-industriais. "Uma moderação rápida, sustentável e efetiva é necessária para evitar a perigosa mudança climática. Uma elevação das temperaturas de mais de dois graus dificultará a vida das sociedades futuras e é provável que causem maiores transtornos ambientais e sociais durante e a partir do próximo século", advertem os cientistas.
O IPCC diz que para alcançar este objetivo é necessário que as nações industrializadas diminuam drasticamente as emissões de gás de efeito estufa entre 20 e 45% em comparação com os níveis de 1990. O novo informe sugere que são essenciais novos e profundos cortes nas emissões, um dos assuntos mais espinhosos colocados sobre a mesa nas conversações da ONU. "Objetivos menores para 2020 aumentam o risco de impactos sérios, incluindo a superação da barreira a partir da qual as forças naturais começam a empurrar as temperaturas para cima, inclusive mais rapidamente".
Muitos cientistas acreditam que, se forem superados esses limites, será difícil, talvez impossível, reverter o processo. O novo documento não tem o mesmo peso que o informe do IPCC, que se baseou em uma quantidade ainda maior de estudos e - o mais importante - é um documento de consenso, o que significa que até os pontos de vistas mais conservadores foram levados em conta. Mas os dados do IPCC remontam a pelo menos quatro a cinco anos e uma avalanche de novas pesquisas sugere que os impactos da mudança climática podem ser ainda piores, e que chegarão mais cedo do que mais tarde.
(Com agência France-Presse)
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