Qual a relação entre os piratas somalis e os piratas do século 17?


Em todas as épocas, criminosos pilham navios em busca de dinheiro

Acusados de pirataria são presos no Golfo de Aden. Foto: AFP
Acusados de pirataria são presos no Golfo de Aden. 
Foto: AFP  

A palavra pirataria remonta ao período da República Romana (que vai de 509 a.C. a 27 a.C.), mas sua prática é ainda mais antiga. Segundo Leandro Duran, pesquisador do Centro de Arqueologia Náutica e Subaquática, vinculado ao Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, "ela existe desde que o homem resolveu transportar coisas de valor pelo mar ou rios". Porém, a pirataria que se tornou famosa e povoa livros e filmes começou a ganhar contornos entre o fim do século 14 e o começo do século 15, quando a pilhagem de embarcações passou a ser considerada crime pelos países europeus. No século 17, pode-se dizer que a classe se organizou: os piratas começaram a se identificar como grupo e a se manifestar por meio de símbolos, como a bandeira negra. No século 18, o policiamento dos mares pela marinha britânica deu fim às ações de pilhagem. Alguns dos criminosos foram perdoados, mas a maioria acabou na forca. Agora, na primeira década do século 21, o mundo assistiu ao surgimento dos piratas somali. Os novos criminosos agem na região chamada de Chifre da África, sequestrando navios e exigindo resgates em troca da devolução das cargas e da tripulação.

Apesar dos séculos de separação, os dois tipos de pirataria têm muito em comum. A começar pela motivação, que é sempre obter um retorno econômico. Além disso, nas duas épocas, os criminosos se aproveitavam de navios que passavam por regiões livres das ações de controle estatal. No caso atual, depois de 17 guerras civis, o governo da Somália não consegue impor controle à sua costa. Aproveitando-se dessa situação, os rebeldes somali resolveram copiar o modus operandi dos piratas modernos. Como explica Leandro, "eles se apropriam de uma embarcação de tamanho médio, que faça algum tipo de comércio ao longo da costa africana, usando-a como base de operações e para identificar alvos. Dela, saem lanchas que abordam os navios maiores". Depois do assalto, acontece o sequestro, que também não é nenhuma novidade. Desde o século 17, funcionários de estado ou pessoas de grande influência eram feitos reféns e trocados por resgates. As ameaças de morte aos reféns em retaliação à prisão de companheiros é outro paralelo com a época moderna. O sentimento de vingança já existia há 300 anos e, em ambos os casos, denota uma identidade de grupo, que tenta proteger seus companheiros.

Por outro lado, existe uma grande diferença entre os dois grupos. A principal delas é que os piratas de hoje não são "homens do mar", ou seja, não são indivíduos acostumados a viver da navegação ou da pesca, o que era muito importante no mundo moderno. "No caso da Somália, os rebeldes parecem ter se lançado ao mar apenas porque identificaram uma área potencial para sua ação predatória", afirma Leandro.
DOWNJÁ
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