Carlos Drummond de Andrade é o primeiro grande poeta pós-movimento modernista e um dos mais importantes poetas brasileiros. Seu livro Alguma Poesia, de 1930, marca o início da segunda fase poética do Modernismo.
Escreveu também prosa que se caracteriza pela riqueza e expressividade da linguagem e do tema, impregnados de senso de humor. Atribuem-se essas qualidades, igualmente, à sua obra poética. Segundo Bosi, Drummond possui uma percepção precisa do hiato entre as convenções e a realidade, entre o parecer e o ser das coisas e dos indivíduos, o que se transforma em objeto privilegiado do humor, seu traço principal. O conjunto de sua obra poética é complexo e vasto, do qual, pela freqüência, é possível destacar certas características e tendências.
Num primeiro momento, sem se deixar envolver, o poeta mantém um certo distanciamento do mundo à sua volta, o que lhe possibilita brincar e soltar a razão, deixando-a entregue a si mesma, maquinando incertezas e certezas, mais afeitas a negar e anular que a construir. Daí os temas do cotidiano, da família, do isolamento, da monotonia entendiante das coisas e do viver, expressos numa linguagem coloquial plena de ironia seca, sarcasmo e humor desencantado, onde sentimento e emoção são refreados. São deste primeiro momento os livros Alguma Poesia e Brejo das Almas.
No segundo momento, sem se distanciar, deixa-se envolver pela realidade à sua volta e canta a impotência e a solidão em um mundo mecânico, frio e político; a decepção e a falta de perspectiva diante da fragmentação causada pela guerra; o sofrimento e a solidariedade do ser humano brasileiro e universal. Temas estes abordados em tons ora esperançosos, ora desesperançosos, com a mesma ironia, humor e sobriedade, estão presentes nos livros Sentimento do Mundo, José e A Rosa do Povo.
Finalmente, o poeta busca o real, através de interrogações e negações que lhe revelam o vazio, o nada e o desencanto que sempre acompanham o homem. Da poesia metafísica de Claro Enigma, desse período, Drummond passa à poesia objectual de Lição de Coisas que, ao enfatizar a linguagem nominal e os aspectos visuais e sonoros, valoriza objetos e coisas, violando e desintegrando a palavra.
Fonte: USP
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