As guerras não são algo novo na história da humanidade. O armamento, a motivação, a estratégia, os objetivos têm mudado muito, mas elas existem há milhares de anos. É evidente que navios a remo e muralhas de pedra não funcionam mais para atacar ou defender cidades, como na Guerra do Peloponeso, na Grécia Antiga: conflitos recentes, como a Guerra do Golfo, contaram com armamento sofisticado e a mais moderna tecnologia da informação. O que elas têm em comum, assim como todos os embates apresentados neste livro, é o fato de terem promovido mudanças fundamentais na trajetória da humanidade.
É bem verdade que História das guerras, coordenado por Demétrio Magnoli a pedido da Editora Contexto, não fica nas conseqüências, mas investiga origens, estratégias, táticas e até contradições de 15 dos mais importantes conflitos da história. Os capítulos foram atribuídos a especialistas e encontram-se em ordem cronológica após o ensaio introdutório do organizador, “No espelho da guerra”. Entre os autores, escolhidos meticulosamente, com base nas suas qualificações, há nomes consagrados e jovens pesquisadores engajados na renovação dos seus campos de especialização. Alguns são historiadores – Pedro Paulo Funari, José Rivair Macedo, Francisco Doratioto, Renata Senna Garraffoni, Marco Mondaini, Elaine Senise Barbosa, Henrique Carneiro, Antonio Pedro Tota e Fátima Regina Fernandes. Outros, especialistas em História Militar, o almirante Armando Vidigal e o coronel Luiz de Alencar Araripe. Dois deles, André Martin e Demétrio Magnoli, são especialistas em Geografia Política. E dois são jornalistas com larga experiência em coberturas e análises da área internacional: William Waack e Cláudio Camargo.
Os textos são o fruto de um processo de crítica e revisão que, acolhendo a diversidade de pontos de vista teóricos e reconhecendo as particularidades dos objetos de investigação, conferiu uma unidade básica à narrativa. Sob a diversidade de experiências profissionais e acadêmicas dos autores, oculta-se uma convicção comum: rigor não significa hermetismo. Os capítulos oferecem leituras das grandes guerras da história pontuadas pelos seus contextos sociais e culturais. Eles evidenciam as dimensões estratégicas e militares dos conflitos que abordam. Todos traçam os perfis dos atores principais do drama maior que se desenrola, pois a história das guerras também é uma história de indivíduos, idéias e decisões singulares. Além de serem escritos em linguagem clara, acessível e direta, os ensaios são acompanhados por mapas históricos que representam a grande estratégia da guerra e suas batalhas decisivas. Assim, o leitor é levado ao campo de batalha ao lado dos protagonistas dos grandes embates.
O fazer histórico é, sempre, uma revisão crítica da historiografia. Cada um dos capítulos de História das guerras expressa a pesquisa mais recente, a bibliografia mais atualizada sobre o fenômeno histórico no qual se debruça. E todos eles representam um “olhar brasileiro” da história mundial. Esse ponto de vista tem significado: os autores podem, quase sempre, tomar uma saudável distância crítica das correntes nacionais de interpretação que, na França, na Alemanha, na Rússia ou nos Estados Unidos, se debatem em torno de feridas profundas do seu próprio passado. Ao mesmo tempo, o Brasil está presente, como ator secundário das grandes Guerras Mundiais do século XX ou como ator decisivo da Guerra do Paraguai, essa fonte inesgotável de controvérsia histórica que é objeto de fecunda reinterpretação.
A narrativa das guerras que mudaram a história é um relato aberto a todos os leitores atentos. Fica agora o convite para viajar conosco por quase 2.500 anos de conflitos.
RECOMENDO!
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