Industrialização Brasileira I

A INDUSTRIA NO BRASIL

Costuma-se dizer que a indústria brasileira nasceu tardiamente e na dependência de tecnologia externa, pois o primeiro surto industrial do Brasil ocorreu um século depois de deflagrada a Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII). Para
MAGNOLI (1996), a industrialização brasileira pode ser dividida em duas etapas históricas distintas: o primeiro surto industrial acompanhou o crescimento da economia cafeeira capitalista de São Paulo. Considera a Revolução de 1930 o marco
para um novo período industrial, identificado com os governos nacionalistas de Getulio Vargas e uma orientação para a abertura ao capital e indústrias transnacionais, no governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961), configurando a substituição do modelo agrário-exportador pelo urbano-industrial.
O surto industrial tem inicio a partir de 1890, na região cafeeira do Sudeste, estendendo-se ate 1929. E precedido por vários fatos históricos importantes: a imigração estrangeira (1880), representando mão-de-obra especializada para a indústria; a Abolição dos escravos (1888) e a instauração da República (1889).
As Industrias predominantes, nessa época, eram as fabricas de bens de consumo nao-duráveis (texteis, vestuários, calcados, alimentos) e as metalúrgicas e químicas (tintas), que se concentravam no Oeste paulista. A concentração industrial em São
Paulo pode ser explicada pelos seguintes fatores:

- A economia cafeeira gerou um mercado consumidor interno (classe media, trabalhadores, imigrantes e escravos recem-libertos);
- A concentracao da forca de trabalho (imigrantes, nas epocas de crise do cafe);
- A infra-estrutura ferroviaria que servia a região cafeeira (transporte de carvao e ferro para as industrias);
- A concentracao de capitais financeiros (exportação do cafe);
- A infra-estrutura portuaria e energética.

A relacao entre a economia cafeeira dominante e a economia industrial nascente se dava da seguinte forma:

a) as crises de superproducao do café provocavam a queda do preço no mercado mundial, o declínio das exportações, o recuo nas plantações e o êxodo de trabalhadores para as fabricas; verificava-se o crescimento da indústria, via empréstimos bancários.

b) a recuperação cafeeira fazia com que os emprestimos bancários se destinassem as plantacoes de cafe, o retorno a exportação. Retomava-se a importar produtos industriais (melhores e mais baratos), gerando crises e falências, industriais.

O inicio da segunda fase da industrialização brasileira e marcado pela crise da Bolsa de Nova Iorque (1929). Essa crise provocou uma contração dos mercados consumidores dos países desenvolvidos e derrubou os preços das mercadorias de exortação dos paises de economia agrária, como o Brasil. Os reflexos dessa crise no Brasil foram desastrosos: alem da queda do preco do café, cai tambem a oligarquia cafeeira, derrubada pelo movimento revolucionario de 1930. A classe media e a burguesia comercial chegam ao poder, juntamente com Getulio Vargas, A ascensão de Vargas representou o estabelecimento da burguesia de pensamento industrial no poder No intuito de viabilizar a infra-estrutura para a indústria e garantir a integracao nacional, foram desencadeadas as seguintes, políticas:

- Centralizacao politica do poder atraves do (Estado Novo, provocando a queda dos poderes locais)
- Criação de empresas estatais em 1941 a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); em 1942, a Companhia Vale do Rio doce (CVRD), com o objetivo de viabilizar a producao de bens de produção e de consumo duráveis, e a implantacao de Infra-estrutura energetica (criação da CHESF);
- Expansão da fronteira econômica, através da marcha para o oeste, buscando a incorporação das terras do Centro-Oeste (expansão da pecuária extensiva nos cerrados). A indústria começava a reorganizar o território nacional.
Pode-se dizer que no período de 1930 até a Segunda Guerra Mundial a indústria nacional cresceu livre da concorrência estrangeira. A Segunda Guerra Mundial (1939 -1945) ao mesmo
tempo em que freou o crescimento industrial, devido a redução das importações de máquinas e equipamentos, estimulou a substituição dessas importações por produtos, nacionais. A "Era Vargas" foi a "Era das indústrias nacionais".

"No pós-guerra, a criação da Indústria de bens de produção voltaria a se associar ao nome de Getúlio Vargas, em 1951 é Inaugurada a usina de Paulo Afonso (...). Em 19S3 surgia a
Petrobrás e, com ela, um gigantesco esforço voltado para a produção, o refino e o transporte do petróleo organizado sob o signo do monopólio estatal" (MAGNOLI, 1996)

A partir da década de 50 a industrialização brasileira sofreu uma forte aceleração. No governo J.K. é reorientada a política industrial brasileira, enfatizando-se a abertura do pais aos
investimentos estrangeiros diretos. O seu "Plano de Metas" (50 anos em 5) tinha como fundamento a implantação de um sólido parque automobilístico, com tecnologia dos EUA e da Europa. Tal política pode ser apontada como a responsável pela inserção efetiva do Brasil ao capitalismo internacional, através da seguinte dinâmica:

- Aquisição de empréstimos internacionais a fim de financiar as obras de infra-estrutura (construção de rodovias e hidrelétricas, expansão do refino de petróleo, etc.)
- Forte estimulo ao capital estrangeiro direto através da abertura da economia e das vantagens, locacionais oferecidas.
- Formação da tríplice aliança (tríade), da qual faziam parte o capital estatal (obras de infra-estrutura), os conglomerados transnacionais (setor de bens de consumo duráveis) e o grande capital nacional (setor de tens de consumo não-duráveis).
- Integração do território nacional como condição à consolidação da Indústria, ganhando importância o planejamento regional, favorecendo a concentração de capital no Sudeste.
- Criação de políticas públicas regionais, a exemplo da SUDENE (19S9), com o pretexto de reduzir as desigualdades regionais Os recursos públicos utilizados para criar a infra-estrutura no Nordeste favoreceu a instalação de indústrias paulistas sofisticadas tecnologicamente, dificultando a absorção da mão-de-obra local.
- Construção de Brasília (1960), viabilizou o inicio da geopolitica de integração nacional, com a construção de estradas radiais, responsável pela articulação do território nacional e a superação do "arquipélago econômico". Serviu para dificultar a pressão popular sobre o Governo.
- Incentivo à indústria automobilística e de eletrodomésticos (bens de consumo duráveis) controlados por empresas transnacionais.

É importante ressaltar que o governo brasileiro estimulou os investimentos estrangeiros de várias maneiras: liberando as importações de máquinas e equipamentos, criando mecanismos de
créditos para expandir o consumo interno, instalando programas rodoviários, energéticos e siderúrgico, dentre outros. As firmas estrangeiras também estavam Interessadas na exploração das matérias-primas e da mão-de-obra brasileira (numerosa e mal remunerada).
Esse processo de industrialização dependente e acelerado que vai do pós-guerra até meados da década de 70, caracteriza a ruptura com o modelo agro-exportador e encerra a fase tipica de
substituição de importação (produção interna dos bens industriais que antes eram importados), trazendo como consequências.

Divisao Territorial do Trabalho, com a concentracao industrial e financeira em Sao Paulo.

- A integracao do territorio, com a criacao de um espaco nacional. A nova forma de organizacao do espaco orienta-se segundo um esquema de centro (SP e RJ) e periferias (fornecedoras de mao de-obra e materias-primas).
- O Centro-Sul tornou-se a regiao mais industrializada e urbanizada do Brasil e surgiu como expressao de modernidade e de integração economica.
- O Nordeste cristaliza-se como regiao de economia deprimida e como area de emigracao intensa para o Centro-Sul. A crise social e bolsoes de miseria marcam o espaco geografico nordestino.
- A Amazonia aparece como imensa reserva fracamente povoada e como futura fronteira de expansao da economia Industrial nacional.

A ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃOBRASILEIRA
- O endividamento externo e a dependencia economica.
Desde o Plano de Metas e ate meados da decada de 70 houve um acelerado desenvolvimento economico, baseado nos seguintes fatores:

- A entrada de capitais estrangeiros atraves de investimentos produtivos diretos, ou seja, com a abertura de filiais de conglomerados transnacionais.
- A politica internacional de juros baixos favoreceu os emprestimos e nao causou entraves ao crescimento economico.
- Havia um equilibrio relativo entre as importacoes de bens industriais e as exportacoes de materias-primas.
- A ampliacao do consumo interno atraves de politicas de estimulo ao credito, garantindo e consolidando o processo de industrializacao.
- O controle sobre a forca de trabalho pelo Estado autoritario, proibindo greves e mantendo sindicatos patronais.
A partir da decada de 70, o modelo economico apoiado na dependencia de emprestimos financeiros externos comecou a se esgotar, devido ao "primeiro choque" do petroleo (1973), causando grande recessão na economia mundial e afetando o pais em funcao do aumento dos gastos com as importacoes de bens de producao (juros elevados) e da diminuicao dos ganhos, pois as materiasprimas foram desvalorizadas pelos paises, desenvolvidos (pela reducao das compras) O saldo negativo na balanca comercial forçou o Governo brasileiro a reorientar a economia buscando atingir superavit (saldo positivo) para o pagamento da divida externa, a
partir das seguintes medidas:

- Reducao das Importacoes com o aumento das tarifas alfandegarias A principal consequencia foi o atraso tecnologico do parque industrial brasileiro, devido aos poucos investimentos
empresarias e o encarecimento das importacoes de maquinas e equipamentos.
- Reducao dos gastos governamentais na area social, gerando a desestruturacao e sucateamento dos programas de saude e de educacao publicos, ampliando o mercado para a iniciativa privada.
- Incentivo as exportacoes de produtos extrativistas e a agricultura comercial, como a soja.
- Aumento dos gastos publicos em grandes projetos voltados a exportacao, como por exemplo os projetos agrominerais da Amazonia (Carajas, AIbras, Jari, ete.).
A partir de 1982 o Brasil passou a incorporar uma sucessao de atrasos de pagamentos da divida externa, bem como conheceu nessa decada uma explosao inflacionaria, que refletia a
instabilidade geral da economia da America Latina. Os superavites da balanca comercial nao foram utilizados para sustentar as importacoes necessarias ao desenvolvimento industrial, mas para pagar os sucessivos rombos gerados pelos juros e servicos da divida. O pais perdeu a capacidade de importar e a base p odutiva instalada nas decadas anteriores conheceu um processo de defasagem tecnologica e o crescimento e agravamento das contradicoes sociais. Vivia-se, nos anos 80, a "decada perdida".
Os anos 90 marcam a liberalizacao da economia e a abertura mercado interno por corta da implantacao de um modelo politicoeconomico neoliberal, integrando o pais definitivamente a
economia mundial Nesse contexto ocorre a queda de juros no mercado internacional, associado aos acordos de renegociacao da divida externa, bem como - atracao de capitais internacionais pela abertura dos mercados financeiros e a privatização de Estatais, A orientação exportadora para conseguir divisas para o pagamento dos juros e serviços da divida, típica dos anos 80, cede lugar à atração de dinheiro novo para cumprir compromissos financeiros.
A abertura do mercado interno à concorrência estrangeira tem provocado o aumento das importações de bens de produção necessários à modernização tecnológica do parque industrial
nacional. Expõe, ainda, vários ramos da indústria de tens de consumo, como carros, eletrodomésticos, brinquedos e até alimentos a essa competição, impondo rotos padrões de
concorrência e competitividade para as Indústrias instaladas no pais, o que tem provocado alteração no padrão de distribuição da indústria.

Observa-se uma tendência à desconcentração industrial, com as seguintes tendências:

a) Deslocamento da indústria das grandes metrópoles para às pequenas e médias cidades, com o objetivo de reduzir os custos de produção, pois nessas cidades conta-se com terrenos mais baratos, impostos reduzidos, incentivos fiscais, mão-de-obra menos organizada, etc.
b) Deslocamento da indústria (ou fases da produção) do Sudeste para outras regiões que ofereçam vantagens locacionais (ex: o deslocamento de indústria de calçados e têxteis para o Nordeste).
c) Descentralização industrial para es tecnopólos ou pólos tecnológicos. Essa estratégia é típica da Terceira Revolução Industrial, onde as empresas de alta tecnologia buscam;

- Existência de universidades e centros de pesquisas avançadas.
- Mão-de-obra qualificada.
- Rede de serviços modernos e eficientes.
- Fugir das aglomerações urbano-industriais e seus diversos problemas.

O Brasil, atualmente. encontra sérias dificuldades para sua inserção na Terceira Revolução Industrial ou Revolução Cientifico-Tecnológica, dentre as quais destacam-se:

- O grande endividamento externo do pais, o que compromete os investimentos estatais em educação e em Ciência e Tecnologia.
- O mau uso dos recursos públicos, (corrupção, desvio de verbas, obras duvidosas, etc.).
- A falta de uma política cientifica e tecnológica.
- A baixa qualificação da força de trabalho, quando comparada com a de outras regiões, como o sudeste asiático.

PRINCICPAIS TRANFORMAÇÕES PROVOCADAS PELO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO:

a) Concentração industrial da região Sudeste (49%), especialmente no estado de São Paulo (57%).
b) Acentuadas disparidades regionais e sócio-econômicas devido a essa concentração espacial.
c) Estabelecimento de uma Divisão Territorial do Trabalho baseada no modelo centro X periferia; o Sudeste se consolidou como região de atração de população e capital e as demais regiões tornaram-se mercados consumidores e fornecedores de mão-de-obra e de
matérias-primas e alimentos a preços baixos.
d) Grande mobilidade inter-regional da população, especialmente o fluxo de trabalhadores que se dirigem do Nordeste para o Sudeste.
e) Forte participação do capital estrangeiro nos setores mais dinâmicos da economia brasileira.
f) Grande endividamento externo do pais decorrente do esforço para financiar as indústrias de base e a infra-estrutura.
g) Industrialização tardia e dependente do capital internacional. A indústria brasileira pode ser considerada complementar, uma vez que produz bens de consumo, com tecnologia inferior, enquanto os países desenvolvidos produzem os tens de capital e tecnologia e os produtos industriais mais sofisticados.
h) Integração territorial através de eixos rodoviários em detrimento dos outros meios de transportes.
l) Forte presença do Estado no processo de industrialização.
j) Consolidação da cidade de São Paulo como principal centro de gestão da economia nacional e com forte ligação à economia mundial, o que lhe confere o status da "cidade global".
DOWNJÁ
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1 Response to "Industrialização Brasileira I"

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